domingo, 13 de setembro de 2009

Nova era


Folhas arrastadas pela brisa
Numa era ocasional.
Ficam jornais pelo chão
Sem notícias piedosas.
O tempo não é opcional.
O tic-tac dita que horas são.
São idades tenebrosas.
Parece um velho casario
De rugas fundas.
Sofás de pó.
Com alcatifas cor de lã.
Soltam-se vozes de tumbas.
Toda a aldeia expira dó.
Houve-se no charco uma rã.



Eis que vem a nova era!
Com flores e princesas.
É chegada a primavera.
Acabam-se os tempos de tristezas.
Num unicórnio dourado
Vem um homem valente.
Que conduz seu próprio fado
Com um olhar doce e carente.
Atravessou vales e montanhas
Para à princesa chegar.
Rompeu suas próprias entranhas
Para a poder beijar.



Eis que volta a nova era!
Tempo de escuridão.
Já se foi a primavera
E os amores já se lá vão.



Mas a esperança é reinante!
Virão muitas mais eras.
O amor é uma constante
E o resto são primaveras.

Sílvia Gonçalves

sábado, 12 de setembro de 2009

Vamos lá imaginar...


Se fosses uma bola de sabão onde pensas que irias rebentar?

>por cima do oceano

>nos lábios de alguém

>em cima de algodão doce

>no vazio

>sob um campo de flores

>numa janela

>nas mãos de alguém

>na copa de uma árvore

>junto das nuvens

>no chão

>no cimo duma montanha


Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nas asas do vento

Nas asas do vento,
Tento alcançar
O mais puro sentimento,
Que se pode guardar.
Envolta em harmonia,
Tento descobrir
A mais bela sinfonia,
Que se pode ouvir.
Há momentos
Em que se é especial,
No seio de sentimentos,
Dispersos numa galáxia celestial.
Os teus gestos sei de cor.
Sabem a maresia.
Proporcionam-me dor.
Proporcionam-me alegria.
Fechas-me a porta sem nenhum pudor
E escondeste à janela.
Resguardas todo o teu amor
Para uma eterna Cinderela.

Sílvia Gonçalves



domingo, 6 de setembro de 2009

Livre como só eu posso ser


Sou livre.
Sinto as batidas desta música,
À minha maneira!
Porque quem não me compreende
É melhor me abandonar.
Todas as mágoas que tive
Ficaram esquecidas na lareira,
Esperando uma chama
Para as queimar.
Sou diferente.
Que mal tem ser assim?
Há os que me acompanham
Com a força de um movimento.
Sou persistente.
Guardo dentro de mim
Pétalas suspensas no vento.
Não me assusta a solidão.
Adoro caminhar sozinha.
Sei de cor todos os passos.
E mesmo na escuridão
Faço da lua a minha
Acumulação de laços.
É bom sentir a vida
Como sinto.
Depositar-lhe a minha intensidade.
Avançar a página lida.
É bom ter alma e instinto
Para viver esta liberdade!

Sílvia Gonçalves

sábado, 5 de setembro de 2009

Trago-vos no peito


Hoje fui a um funeral. Não importa de quem. Não importa onde. Fui.
Não vou entrar em reflexões sobre a morte nem sobre a vida, nem sobre ambas. Seria entrar num ciclo de onde não me atreveria a sair.
Vou antes testemunhar aqui o que sinto por todos aqueles que amo. Porque amanhã pode ser tarde de mais. E eu não sei se existe mesmo outra vida. E também não sei se a morte é a porta para a vida eterna. Eu sou uma ignorante. Sou uma ignorante com sentimentos profundos que me fariam dar a vida por certas pessoas, apesar de todas estas dúvidas.
As pessoas por quem nutro o maior amor do mundo são, sem dúvida, os meus pais. É inexplicável transmitir o que por eles sinto.
Toda a restante família também tem um marco de extrema importância no meu coração.
Quanto aos amigos. São poucos mas os melhores de sempre. Pensar em tudo que já vivemos juntos é celebrar a verdadeira amizade.
Depois vêm todas aquelas pessoas que nem sabem que as trago no peito mas que faço questão de as trazer do mesmo modo: professores, vizinhos, idosos, crianças, incapacitados, pessoas que nem sei quem são mas de quem gosto... Porque há rostos que retenho por albergarem uma história comovente por trás.
E porque o amanhã é incerto achei por bem salientar que amo todos aqueles com os quais já contactei, embora de modos distintos.
Amanhã não sei mas hoje vivo por mim mas para todos vocês.
Sílvia Gonçalves

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olhares deambulatórios


Já nem o céu azul consigo ver. Na minha mente, ele adquire os tons do teu olhar. Sei que apenas eu o vejo assim. Porque o céu é azul.
Existem várias aves a sobrevoá-lo, atravessando, assim, o teu olhar. Certamente nem as vês. Mesmo elas te invadindo os olhos. Porque o teu olhar está reflectido no céu apenas para mim.
Mal nascem os primeiros raios de sol, lá está ele. Que olhar tentador, místico, persistente. Dói olhá-lo por causa da intensidade da luz. Então, aguardo pacificamente a chegada da lua. Altura em que já não magoa olhar teus olhos. Eles brilham na escuridão.
Como os distingo de entre as estrelas? É simples. As estrelas são pequenas e os teus olhos ocupam todo o céu. Ocupam todo o céu que eu consigo alcançar. Porque, apesar do teu olhar estar por toda a parte, o meu é pequeno de mais para o abranger a todos os instantes.
Há dias em que o procuro e não encontro. Mas sei que está lá. Vejo as aves a contornarem-te o rosto.
É só por isto que as aves alteram as suas trajectórias. Para evitarem bater contra os olhares que no céu andam perdidos, à deriva.
Por isso, quando olharem o céu e vislumbrarem aves a voar em linha recta é porque vocês não estão a olhar com atenção e não vêem olhares perdidos.
Há dias em que o nevoeiro nos cega. Mas logo virá a luz do sol. E a seguir a da lua, que já não magoa.
Sílvia Gonçalves

Lençol branco


Um lençol estendido
Faz lembrar a neve pura
Que cai no solo esquecido
De uma ladeira escura.

Só o vento o agita.
Ele não tem forças para isso.
O sol é quem o purifica,
Salientando o seu branco maciço.

É feito de fibra boa.
Tecido que vale a pena.
Só a noite o apazigua.
Assemelha-se à lua serena.

Nele podemos descobrir
Todos os sonhos que temos.
E, se necessário, esculpir
Estes versos que escrevemos.

Sílvia Gonçalves




Um último adeus


Trago o peito apertado.
É triste este fado.
Uma vida a menos.
Somos meros seres terrenos.
Que descanse eternamente.
Seja relembrado ao sol poente.
Já as memórias se agitam
em locais onde as almas gritam.
Seja feita a sua vontade.
Já paira no ar a saudade.
Somos pequenos demais
Para sermos imortais.
Que a viagem seja curta
Sem ser preciso haver luta.
Armas e armaduras de ferro forte
Não fazem frente à morte.

Descanse em paz…

Sílvia Gonçalves

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A fúria de um dia


Hoje estou tão revoltada
Que vou atirar as palavras ao papel.
Não me importa mais nada!
Que raiva tão dura e cruel.

Quero que as letras se agitem
Como agitada tenho a alma.
E que todos os astros coabitem
O espaço deste meu trauma.

Ai, se eu pudesse explodir!
Libertaria este furor.
Que inquietude estou a sentir.
Apertam-me paredes de horror.

Venham mil pratos
para partir.
Como se fossem retratos
Onde não estou a sorrir.

Há dias mesmo difíceis de lidar.
Dias em que o amanhã demora.
E em que só para contrariar
A tormenta não vai embora.

Mas existe um barco no escuro
Pronto para me guiar
Ao sitio onde o barulho
Provem das ondas do mar.

Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Estou em ti. Mas tão ausente.


Voando como sombras por cima de ti, vou longe, quase chego ao final.
Tenho receio que sintas a minha presença que teimo apagar a cada passo em frente.
Por vezes, cruzas-te comigo mas não pareces saber que estou sempre colada a ti.
Eu simplesmente te respondo, não tenho força para mais. O não pesa mais que o sim.
Mas tu pareces saber tudo. Pareces sentir a sombra que me esboça.
Talvez finjas não a sentir. Se calhar o teu não também pesa mais que o teu sim.
Eu parei de voar. Se me desloco até ti é por vontade da brisa não minha.
Eu decidi desprender-me. Agora a brisa vem e apodera-se dos meus desejos.
A seguir será o vento? Um tufão? Um vendaval?
Quando é que irás esvair-te como areia fina?
Pega num castiçal e incendeia a minha sombra. Faz isso, só hoje.
Deixa-me viver um dia só meu. Liberta-me de ti mesmo sem saberes que me prendeste.
Só hoje.
Sílvia Gonçalves

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Melodia do amor


Acordes tão breves,
Que deixo de ouvir
As palavras que queres
Que eu alcance a sorrir.


Então…

Aumentas a intensidade
Dessa tua melodia,
Que me faz ter vontade
De a ti chegar, um dia.

Porquê?

Não sei explicar o que sinto,
Mas não deixes de tocar
Essa sinfonia de céu limpo,
De raio de sol a brilhar.

Até quando?

Vais permitir-me ouvir sempre
As batidas do teu coração?
Não me soltes de repente.
Não me peças perdão.

Esperança…

Não sei como terminar
O que sinto por ti.
A tua melodia está a findar
E quase nem a ouvi.


Sílvia Gonçalves

Visitem o blog: http://rafaelabeleza.blogspot.com/

Trata-se de uma menina sonhadora que comporta magia e cor. É especial. Vai para lá das coisas imediatas, procurando o seu próprio significado em tudo que vê. Alegre mas com alguns restos de melancolia que a levam a divagar e a ESCREVER. É isto que nos aproxima!
Uma pessoa que vale mesmo a pena conhecer e que acredito que terá sorte na vida. Daquelas pessoas que olhamos e pensamos para nós: ela não é uma jovem igual a tantas outras. Ela tem potencial.
Responsável, fantasista, atenta e alheia a tudo é assim que te vejo Sónia Rafaela. E eu também aprendo contigo. Contagias com esses olhos enormes que explodem brilho e alegria mesmo tendo em conta as adversidades da vida. És uma guerreira! Contigo nunca haverá gente a caminhar sozinha pela vida.
Acredita em tudo que és e no que podes alcançar. Eu acredito e estarei sempre na primeira fila a apoiar-te.
Quanto à escrita, esvaia sempre tudo o que sentes ainda que te pareça estranho porque o que escrevemos são na mesma vocábulos com a simples diferença de nascerem da tinta e não da voz.
Tu vais muito longe, acredita!
Da amiga…


Sílvia Gonçalves

Ousadácia

Quantas vezes parámos uns momentos a rotina da nossa vida para reflectir se estamos a ser o que queremos e a fazer aquilo que desejamos. Um grande número das vezes a resposta obtida é negativa. Em parte por nossa culpa porque andamos toda a vida a trabalhar para obter objectivos que esquecemos de a viver. Falo em viver livremente. Em parte a culpa é do destino que nos move para caminhos que nunca pensamos percorrer.
Depois perguntam-nos como estamos e o que temos feito e nós explicamos, de sorriso no rosto, procurando disfarçar aquele suspiro de desilusão que nos invade nos piores momentos.
Estereotipadamente vivemos bem. Mas falta-nos aquela ousadácia (ousadia + audácia) para quebrar muros e fronteiras e vivermos o agora.
É urgente seguirmos os instintos. É urgente largar a razão. É urgente conservar doses de loucura. É urgente!
Se estamos sós na vida, provavelmente, até sentimos essa solidão mas é bem mais fácil continuar a viver para o cão ou para o gato do que nos lançarmos à paixão.
Ou a pessoa não tem o emprego que gostaríamos, ou é velha ou nova de mais, ou já esteve na prisão, ou não é da mesma cultura que nós, ou ou ou…Basta de hipóteses! Chega de coisas delineadas!
Se amamos devemos lutar. Temos dentro de nós o mais belo dos sentimentos. Ignorá-lo é ignorar a ventura. Se passar com o tempo não faz mal. Foi uma felicidade momentânea que não perde o valor por isso.
Somos demasiado adeptos de regras. Devíamos arriscar. Se pensarmos em tudo que já deixamos escapar por receio certamente que nos sentimos oprimidos. Já se pensarmos nos nossos fracassos sentir-nos-emos aventureiros.
É urgente devastar assim como é urgente criar. Só deste modo haverá espaço para novas plantações e, consequentemente, para novas colheitas.


Sílvia Gonçalves

Coisas que acontecem


Pensei que os teus braços
Eram o meu refúgio
E que os teus passos
Traduziam o modo certo de andar.
Pensei que tudo que sonhavas
Era possível realizar.
Acreditei que se quisesses
Podias parar o vento,
Podias secar o mar
Com um doce movimento,
Com a força de um olhar.
Perdi-me no teu corpo.
Julguei ser esse o meu lugar.
Lugar infindável,
Feito para amar.
Nem chegaste a saber
Tudo aquilo que sou.
E apesar de sofrer
Não faz mal, já passou.


Sílvia Gonçalves