Quem me dera ser um vegetal
De cor indefinida,
Que crescesse num quintal
Duma rua escondida.
Gostava de ter raízes vorazes
Para saciar minha fome.
Encolher-me como fazes,
Vegetal que se consome.
Gostava de ter veias de verdura
E de sentir o orvalho ao romper do dia,
Numa constante procura
De água fresca e luzidia.
Ser vegetal é ser livre.
É não ter que pensar.
Um vegetal vive
Apenas para alimentar.
Não tem contas a pagar,
Não tem mulher nem marido.
Nem sequer consegue ponderar
Que um dia será ingerido.
Gostava de ser vegetal
De ser este não ser.
Seria algo, afinal
Até alguém me comer.
Sílvia Gonçalves
De cor indefinida,
Que crescesse num quintal
Duma rua escondida.
Gostava de ter raízes vorazes
Para saciar minha fome.
Encolher-me como fazes,
Vegetal que se consome.
Gostava de ter veias de verdura
E de sentir o orvalho ao romper do dia,
Numa constante procura
De água fresca e luzidia.
Ser vegetal é ser livre.
É não ter que pensar.
Um vegetal vive
Apenas para alimentar.
Não tem contas a pagar,
Não tem mulher nem marido.
Nem sequer consegue ponderar
Que um dia será ingerido.
Gostava de ser vegetal
De ser este não ser.
Seria algo, afinal
Até alguém me comer.
Sílvia Gonçalves