Estaria eu a avistar realmente ou seria, uma vez mais, irreal?
Decidi avançar.
Ao lado havia um rio. A água tremia a cada passo meu, parecendo advertir-me.
Era imaginação. Até o rio me tentou impedir da desilusão. Até o rio.
Recuei. Deitei-me no chão macio. Procurei seguir a minha fantasia. Apesar de não passar disso, havia-me arrastado para aquele lugar. O máximo que podia fazer era permitir-lhe findar o seu enredo…ainda que falso e, por isso, inútil.
Tantas vezes assim foi. Tentei agarrar os sonhos até eles se evaporarem como cinza que não aguenta ser apertada. Cinza que sufoca com o calor das mãos.
Pouca diferença fazia. Estava ali, ia terminar a minha ilusão.
Fechei os olhos e tudo continuou: as duas formas não saiam do lugar. Foram, sucessivamente, ficando mais nítidas. Eram corpos. Era o meu corpo! E era o corpo de outro alguém. Mas que faziam eles? Nada. Olhavam-se imóveis. Eram (concentrei-me), eram feitos de cera. Como poderia ter eu ansiado que se movessem? A cera é matéria inerte como inerte são os meus sonhos. Inertes após o momento do despertar.
Continua…
Sílvia Gonçalves