quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Imaginação que me abala

Avistei duas formas. Seriam corpos? Instrumentos melodiosos? Arvoredo? Seria apenas a minha imaginação que, ante sucumbir, decidiu funcionar uma última vez?
Estaria eu a avistar realmente ou seria, uma vez mais, irreal?
Decidi avançar.
Ao lado havia um rio. A água tremia a cada passo meu, parecendo advertir-me.
Era imaginação. Até o rio me tentou impedir da desilusão. Até o rio.
Recuei. Deitei-me no chão macio. Procurei seguir a minha fantasia. Apesar de não passar disso, havia-me arrastado para aquele lugar. O máximo que podia fazer era permitir-lhe findar o seu enredo…ainda que falso e, por isso, inútil.
Tantas vezes assim foi. Tentei agarrar os sonhos até eles se evaporarem como cinza que não aguenta ser apertada. Cinza que sufoca com o calor das mãos.
Pouca diferença fazia. Estava ali, ia terminar a minha ilusão.
Fechei os olhos e tudo continuou: as duas formas não saiam do lugar. Foram, sucessivamente, ficando mais nítidas. Eram corpos. Era o meu corpo! E era o corpo de outro alguém. Mas que faziam eles? Nada. Olhavam-se imóveis. Eram (concentrei-me), eram feitos de cera. Como poderia ter eu ansiado que se movessem? A cera é matéria inerte como inerte são os meus sonhos. Inertes após o momento do despertar.

Continua…

Sílvia Gonçalves

Erras tu ou erro eu



Rasgas e recompões.
Ameaças e pedes perdão.
Estou cansada de sermões,
De ouvir sempre “não”.

Vou procurar a calma
Que me permita sorrir,
No meio da minha alma
Que sempre está a dormir.

Farei de tudo um sonho
Que se apaga com o amanhecer.
Tens um coração medonho
Mas que não me está a apetecer.

Não tenho vontade de ti.
Hoje sei lá o motivo.
Não quero ver-te aqui.
Nem dar-te um ombro amigo.

Redundante é o meu ser
Que em rodas se esquece
Que és o meu viver,
Que sem ti, meu mundo falece.

Esquece que te ignorei
E fiz de ti os meus trapos.
Agora que acordei
Não terei mais lapsos.

Sílvia Gonçalves

Do que és feita



Desprovida de preconceitos,

Avanças a alameda

E escorregas nesses jeitos

De enredos de seda.

Repetidas vezes chamas

Por quem não te quer escutar,

Reavivando as chamas

Que se procuram apagar.

Teclas de piano a tocar,

Quase estão a morrer.

Ouves o som a flutuar

No espaço do teu viver.

Tens faces de cor

Que largam lágrimas de cristal.

És feita de amor

De sonhos tristes e de mal.

Sílvia Gonçalves

Descodificar-TE



Como posso escolher o caminho certo

Se controlas a minha mente

E até o tempo?

Não vou incorporar as tuas causas perdidas…

Eu nunca vou possuir o que é realmente meu
Se estás sempre a apoderar-te de mim.

Mas desta vez direi não!

Desta vez, não!



Como me deixei envolver?

Como chegamos até aqui?

No fundo, penso que sei.



Toda a verdade está atravessada no teu olhar

E velada de baixo da tua língua.

No meu sangue ferve a saudade,

Mas pareces não saber.

Que tipo de pessoa és?

Hei-de descobrir,

Um dia.


Sílvia Gonçalves