sábado, 1 de agosto de 2009

Almas <<------>> Corpos

As almas
Compõem rituais,
À noite,
Sob a luz da lua.

Dançam baladas.
Habitam corpos especiais.
Encarnam a escuridão.
Elevam-se nuas.

Os corpos
São prisões cercadas,
Redes de emoções,
Páginas caligrafadas.

Tocam melodias
Tentando evoluir.
São partes imaturas,
Pedaços por sucumbir.

Sílvia Gonçalves


Viva o Verão!


Momentos agradáveis,
Enlaçados na água do mar,
Alheios à areia fina.
Momentos quentes,
Momentos molhados.
Sorrisos que cercam
Os acontecimentos normais.
Vozes misturadas
Como bolas de bilhar.
Amizades saudáveis
Pairam pelo ar.
Nuvens em baixo e em cima
Dos beijos calmos e ardentes.
Namorados enrolados
Que já nem pecam,
São actos banais.
Toalhas molhadas
Teimam em reinar.

Sílvia Gonçalves


Tempo para reflectir


Durante estes 18 anos da minha existência que tenho sido alvo de muita inveja, falsidade e traição, de modo a que me era dificil encarar determinadas pessoas, em certas situações. Até que um dia, um amigo me mandou uma sms enorme a explicar como eu deveria proceder nessas alturas. Aconselhou-me a imaginar que eu estava dentro de uma bola com uma trasnparênsia peculiar. Essa bola permitia-me ver para fora mas impedia que os outros ( as pessoas que eu queria evitar) me vissem dentro dela. Devo dizer que resultou!
Hoje, com mais maturidade ainda em cima e uma quanta dose de experiência, já não recorro a essa bola que me engolia mas protegia. Agora simplesmente passo por quem quer que seja e destribuo sorrisos. Os que os captam são dignos de toda a minha seriedade e respeito, os que os ignoram são dignos do meu desprezo. Chorar por essas "pessoas"?Nunca mais!
Porque só merece gostar de mim quem tiver dentro de si virtudes para isso.
Por isso, um conselho que vale para toda a vida: quem não gostar de vocês só vos está a ajudar a crescer e a construir uma muralha indestrutivel de coragem e ousadia. O mundo avança com o bem de uns e fortalece-se com o mal de outros.
Sílvia Gonçalves

Cansada da minha carcaça (gostava de vestir outra pele)

Como eu gostava
De ser sobrenatural.
A humanidade limita-me.
Gostava de não ter barreiras,
De poder voar,
De passar entre o fogo.
Gostava de morrer
E acordar quando quisesse.
A humanidade limita-me.
Gostava que tudo
Fosse acaso.
E acontecesse
O inesperado.
Gostava de atingir o inimaginável,
De chegar ao impossível.
Adorava ser uma criatura
Diferente e livre.
A humanidade limita-me.
Amava tocar todas as sinfonias
Num piano quebrado.
Eu só queria ser um monstro belo,
Um mostro com sentimentos.
Ter asas e velocidade.
Eu queria não pertencer aqui,
Queria ser doutra galáxia.
Mas…
A HUMANIDADE LIMITA-ME.

Sílvia Gonçalves

Morre lentamente…


…quem não sabe amar,
Quem foge dos perigos,
Quem cai na rotina,
Quem teme arriscar,
Quem nunca anda à chuva,
Quem não segue a emoção,
Quem planeia toda a vida,
Quem nunca salta o portão,
Quem não sabe abraçar,
Quem desaprendeu a sorrir,
Quem nunca pisa o risco,
Quem vive a dormir,
Quem se protege de tudo,
Quem não anda descalço,
Quem não se lança ao mar,
Quem não percorre o mundo,
Quem só fala com quem conhece,
Quem não se lança num amor proibido,
Quem nunca abusa do que gosta,
Quem nunca faz alarido.

Morre lentamente
Quem não sabe durar,
Quem teme ser diferente
E se recusa a amar.


Sílvia Gonçalves

Alta tensão


Barulho ensurdecedor,
Faíscas que caem.
Paredes de horror,
Fantasmas que saem.
Vidros partidos,
Véus rasgados.
Sonhos feridos,
Momentos apagados.
Alta tensão,
Que aumenta
O bater do coração.
Arde o sabor a menta.
Prendem-me o corpo
Com cadeados de aço.
Corpo vivo, corpo morto.
Corpo sem braços.
Momentos cristalizados
Com o sémen da vida.
Olhos abertos, olhos fechados.
Estanca-me a ferida.
Rumo desajeitado,
Este que me cerca
Para todo o lado,
Onde a essência peca.

Sílvia Gonçalves

Feiticeiro

Foste, és e serás
Um feiticeiro
Que engana, trai
E prende
O dia inteiro.

Olhos falsos,
Cabelo enganador
Que enlaça o vento,
Rasga a brisa
E reparte dor.

És tentativa forçada
De apagar o passado.
És a chama embaciada,
A janela fechada,
O cálice derramado.

Sílvia Gonçalves


Ideal de beleza? Para quê?

Não existem seres iguais,
Tirando excepções diminutas.
Então, não fazem sentido os ideais
Que nos conduzem a disputas.

Todos somos belos, simplesmente.
Não há como saber quem o é mais.
Isso seria apelidar alguém de diferente,
Fugindo das regras normais.

Olhos verdes, azuis, castanhos
Que diferença faz?
Para quê cuidados tamanhos?
O essencial é usufruir de paz.

Rugas ou pele lisa.
A pele é para sentir
Mesmo a melodia imprecisa
De quem já não sabe ouvir.

A beleza é relativa
Eu posso gostar de quem não gostas.
Achar uma pessoa atractiva
Mesmo apenas vendo-a de costas.

Não fazem sentido algum
As exclusões.
Adão era só um,
Logo não sofreu comparações.

Eva amou-o desde logo.
Mas e se houvessem mais?
Escolheria Adão de entre o povo
Ou render-se-ia às comparações fatais?
Eva e Adão,
Histórias sem certeza.
Mas o que importa é o coração
E não a suposta beleza.

Sílvia Gonçalves

Há momentos em que me apetece escrever aos fragmentos…

Es tou dis tan te,
Alhe ia a tu do
Co mo um vi a jan te,
Em ro ta pe lo mun do.

Sou pe da ços un i dos
Com von ta de i ne ren te,
Que fo ge dos pe ri gos
Nu ma lu ta cres cen te.

Há alturas, nesta caminhada denominada vida, que só escrevendo de acordo com o nosso estado de espírito é que as palavras se espraiam e conseguimos comunicar. Portanto, hoje, sinto-me fragmentada. Não fragmentada como uma estrela-do-mar mas fragmentada como um pedaço de papel que se rasga sem notar. Da estrela, resta-me apenas algum brilho que faço questão de preservar. Há momentos assim…

Sílvia Gonçalves