sábado, 14 de julho de 2012

Tudo começou num tempo distante. Há muito muito tempo atrás (como normalmente se diz nas histórias). Uma jovem rapariga tropeçou num objeto. Melhor dizendo: em metade de um objeto. Metade de um coração. Inicialmente pareceu-lhe algo disforme, similar a uma face retratada em perfil, de um jeito abstrato. Só depois reparou ser metade de um coração. Daqueles corações “comerciais” que simbolizam o amor. Os corações reais são bem diferentes, cavados de artérias e veias que lhe conferem anatomicamente uma forma nada romantizada. Um pouco grotesca até. Ia ela descendo uma calçada com pedras de vários formatos e relevos quando, por fim, acabou por pegar na referida metade do coração. Questão que o mais comum dos mortais colocaria: Quem terá a outra metade? Com Maria (a jovem em destaque) não foi diferente. Quem teria a parte que encaixava no “seu” coração? Acrescento: Quem terá as metades que preenchem as nossas dúvidas, que acalentam os nossos receios, que embalam os nossos pesadelos? Quem as terá afinal?


Sílvia Gonçalves