quarta-feira, 8 de abril de 2009

Olhar

Escrevi este poema quando tinha 15 anos e foi com ele que ganhei o meu primeiro concurso de poesia, a nível escolar.
Se fosse hoje, não o escreveria da mesma forma. Aliás, ainda ponderei fazer-lhe algumas alterações mas, posteriormente, abandonei essa hipótese. Se foi isto que senti, na altura, não faz sentido mudá-lo.
As pessoas crescem mas as palavras ficam…

Olhar o infinito
Sentir multidões
Soltar um grito
Repleto de emoções.

Olhar um oceano
Sem o mar alcançar
Fazer de tudo um engano
Para nada ter de desvendar.

Olhar o fogo apagado
E o gelo escaldante
Um sofrimento amargurado
Num silêncio falante.

Olhar e não ver
Tornar real o imaginário
Querer e não ter
É esta a lei do contrário.

Olhar em frente
Receando o passado
Viver o presente
Esperando um futuro calado.

Olhar o deserto
E uma estrela incandescente
Estar perto
Mesmo estando ausente.

Olhar uma folha em branco
Escrita a tinta preta
Realçar o seu encanto
Com um lápis ou caneta.

Olhar uma rua
Reparar num candeeiro
Escutar uma alma nua
E um murmúrio alheio.

Olhar o mundo
Ambicionando o Universo
Ir da superfície ao fundo
Num pensamento disperso.

Olhar sorrindo
Adormecer chorando
Observar sentindo
Que alguém nos vai amando.

Olhar um vulcão
E na lava descobrir
A cor do coração
Que bate sem partir.

Olhar o sol
Sem reparar no céu
Compará-lo a um farol
Que por momentos foi meu.

Olhar o chão
De cabeça erguida
Tocando-lhe com a mão
Sem abrir qualquer ferida.

Olhar
E viver olhando
Sonhar
E viver sonhando.

Sílvia Gonçalves