quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Lição de vida nº2


Era uma paisagem descoberta que em nada chamava a atenção. Não era daqueles panoramas que se colam à vista, ofuscando-nos os sentidos. Possuía um pequeno cavalo feito de trapos cuja base era de madeira.
Quem via tal local seguia em frente, sem fotografar, sem criticar, sem mudar a respiração.
Com a sucessão dos dias e das noites, o referido cavalo foi envelhecendo. Com o passar das Primaveras e dos Outonos, foi degenerando. Nessa altura, quem por lá passava já perdia um pouco do seu tempo a contemplar tal objecto. O que seria? Tinha tão mau aspecto. Para que servia ou teria servido? Já tiravam fotografias na possibilidade de, mais tarde, vir a perceber aquilo que outrora havia sido um cavalo de trapos.
Quando os acontecimentos correm pela normalidade nem os notámos. Passam ao lado. Se, porventura, algo os modifica, nem que seja o simples mas incómodo passar dos anos, já são alvo de cuidadas atenções. Até os nossos sentidos são interesseiros.

Sílvia Gonçalves