sábado, 13 de novembro de 2010

Forte ligação


Eram dois corpos encostados
Que sem querer, se despegaram,
Assumindo contornos desajeitados
E logo depois se abraçaram.

Não suportavam a ausência,
O calor afável e o odor
De toda aquela essência
Designada de amor.

No Outono, no Inverno, no frio
Até o tempo parar,
Viviam noites a fio
Harmonizando o respirar.

Chegavam a ser simbióticos.
Não tinham independência.
Eram de ambos os pórticos
Para alcançar a tal essência.

As palavras não eram precisas
Para a comunicação ganhar sentido
E quando suspiravam brisas
Um e do outro se faziam abrigo.

Mais que o toque e a inspiração,
Surge a cumplicidade
Que já vem da concepção
Tornando-se elo de reciprocidade.

Sílvia Gonçalves

domingo, 7 de novembro de 2010




Turbilhões de febres esquisitas
Rondam os ares da montanha,
Nos espaços em que coabitas
E escondes a tua rude façanha.

Não és feita de seda
Nem áspera como a arriba.
Transpareces entre a labareda
A tua nua cinta descaída.

O estrelar do céu
Fica coberto de pólen.
Tudo não passa de um véu
Lançado por um bravo homem.

Há defeitos. Há feitios.
Não nos podemos mudar.
Repelem-te com assobios
Mas terás o teu altar.

Sílvia Gonçalves

sábado, 6 de novembro de 2010

Possibilidades




É uma possibilidade,
A lua reduzir o tamanho.
Ficar uma mão de saudade
Pertencente a um braço estranho.

Esse braço pode ser
O ramo da árvore dos livros,
Que se lêem ao anoitecer
Até se adormecerem os sentidos.

Esse livro pode ficar
Para sempre fechado.
A criança irá chorar
Sem o seu enredo narrado.

Mas é possível que ela cresça
Se torne velha até.
E que para sempre adormeça
Bastando tomar café.

Sílvia Gonçalves