quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Lição de vida nº1


Nem sempre as palmeiras se agitam com a força da brisa que corre. Por esse motivo e muitos mais, que não importam aqui deixar, ela partiu rumo ao deserto. Foi sozinha nessa jornada perigosa.
Caminhou dias a fio sobre areia delicada onde escreveu palavras efémeras.
De mochila às costas apeou-se por entre os cactos daquele solo arenoso na procura de algo mais vivo que ela, mais vivo que aqueles cactos transpirando verdura, mais vivo que o lagarto fugitivo que por lá passou.
Precisava de algo preso à vida que a fizesse sentir o sangue a correr nas veias e os poros a dilatar de pressão.
Não era aventura que ambicionava, não era diversão, não era loucura. Queria sentir a agitação suave da vida, o trémulo passar do tempo, os trilhos do destino.
Pouco lhe importava esbarrar contra um avião despenhado pois seguiria o seu caminho sem abrandar a marcha. De nada lhe serviria encontrar um poço repleto de água pois, se ele existisse, já estaria cercado de outras vidas. Nem só ela anda perdida pela vida.
Sentou-se para desenhar o sol a esconder-se nas dunas. Os seus dedos soavam tanto que deixou escorregar o lápis, o qual rebolou pelo chão por força da grande agitação do vento. Duas incongruências presenciadas: o sol tornar-se mais forte ao desaparecer e o vento soprar mais forte numa zona de baixa altitude. Era isto que ela queria - dificuldades. Pois só quem as vive é que vive realmente.
E ali, sem ser necessário encontrar algo mais vivo que ela, acabou por encontrar vida em si mesma. Por vezes, vamos tão longe procurar o que está guardado bem dentro de nós.

Sílvia Gonçalves

O que para mim são milagres

Acho milagre a pele se regenerar,

Acho milagre a lua preceder o sol,

Acho milagre um ser humano nascer de outro,

Acho milagre a água apagar o fogo,

Acho milagre uma árvore respirar,

Acho milagre a sucessão das luas,

Acho milagre bastar fechar os olhos para dormir,

Acho milagre ver sem olhar,

Acho milagre....VIVER!



Sílvia Gonçalves