domingo, 7 de fevereiro de 2010

Embora doa

Embora doa

Segui os teus passos.

Estive quase a desistir.

Enlacei-me nos teus braços,

Nem dei pelo meu existir.



Embora doa há sempre mais,

Mais que o simples ir e voltar

E perder-me nos teus traços,

Nesse teu modo de andar.

Fugi dos embaraços.



Por mais que doa

Tenho fé, quero ainda acreditar,

Sucumbir essa maré.

Eu quero fluir no teu mar.

Permanecer de pé.



Embora doa,

Vou sorrir.

Não existes para mim.

Vou quebrar ou vou partir,

Mas dar-te-ei um fim.


Embora doa…



Sílvia Gonçalves



A ironia é ambicionar serem sonhos algumas das minhas realidades. Coisas más que vivi, bem poderiam ter sido pesadelos. Mas não. Como sempre, não posso escolher o destino. Sopro ao de leve para mudar o seu percurso. Às vezes resulta, outras não.
São pétalas derrubadas as minhas investidas. Mas nem sempre. Já alcancei o pedestal saltando de pluma em pluma. E em saltos diversos fui ancorar no mar mais profundo.
Houve ainda aquela outra vez em que, suspensa num balão de cristal fui derivar a uma ilha. Mais tarde, esta imergiu. Ou melhor, o Oceano degolou-a.
Mas o que não me sai da memória foi o instante em que escorreguei na lama das artérias da minha mãe. E não bastou o equilíbrio que atingi lá no fundo, acabando por sair para o exterior. Esse sonho, essa dádiva, essa realidade resolvi chamar de: o meu nascimento.


Fim

Sílvia Gonçalves