sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Amor é fogo que arde sem se ver

Este é o único poema que se encontra neste meu espaço que não foi por mim criado. Coloquei-o aqui por ser dos meus sonetos predilectos e por ter um significado especial.
Desfrutem de um exemplar de verdadeira poesia..

Amor é um fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói, e não se sente;
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer.

É um não querer mais que bem querer;
É um andar solitário entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É um cuidar que ganha em se perder.

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata, lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Luís Vaz de Camões

Silêncio a mais?


Enquanto não falo, escrevo.

Enquanto não toco, suspiro.

Enquanto não luto, tenho medo.

Enquanto me refúgio, procuro abrigo.




Cada vez que me queres, reclamas.

Cada vez que sonhas comigo, procuras.

Cada vez que me desejas, me chamas.

Cada vez que sufocas, cometes loucuras.




Sílvia Gonçalves

Análise ao amor


O sentimento de amor vivido por muitas pessoas reparte-se por gavetas fechadas e papeis rasgados. Se não fosse o dia dos namorados, muita da gestão desse amor nunca seria feita. Nunca iriam parar aos sítios certos os momentos adequados e jamais os carinhos e afectos rumariam até aos locais ajustados.

Para muitas dessas pessoas, esse dia é uma forma de recorrerem à mesma loja de sempre, a fim de comprar as mesmas rosas de sempre, com o mesmo aroma de sempre e envoltas no mesmo tom de sempre.

Regra geral, o dia de S.Valentim obriga os casais a embrulhar o desprezo num papel apelativo, tentando simular o romance perfeito e esperado.

As horas passam, os dias passam, os anos passam…tudo parece saturar.

Mas porquê que o amadurecimento não parece ser compatível com amor? Porquê que o coração não se enruga com o entrar na velhice? Porquê que as pessoas não permitem uma proporção de amor por entre anos e anos de convivência?

Não faz sentido alguém deixar os elogios à porta, pensando que as pessoas já os adivinham. Eles são sempre necessários. E não vale evitar o perdão com a desculpa de que os erros e trapalhadas já se tornaram hábito.

Não faz sentido algum parar de olhar nos olhos como outrora, ansiando a mais doida proeza. Não devia ser permitido parar de sonhar, olhando todas as situações como previsíveis e, por isso, despidas de magia.

Devia ser proibido o “há tanto tempo que já te conheci” e obrigatório o “ainda bem que te conheci”.

Tudo bem que com o passar do tempo o coração pode deixar de ser vermelho. É normal que aconteça. Mas porquê que ele não assume várias cores? Cada experiência passada assumia um tom e, assim, o amor não se perdia e ia-se enriquecendo cada vez mais.

E também já não faz sentido pensar que o amor tem de ser vivido à beira mar numa noite de luar. O amor pode e deve ser sabedoria mais que aventura, para poder sobreviver no tempo e enraizar - se no coração.

Quanto àquele tipo de amor, se é que este pode ser categorizado, que só se alimenta na noite, na cama, tenho sérias restrições perante ele. Pois a cama pode assumir o estatuto de um palco, onde apenas se finge, não se vivendo a plenitude do amor. Curiosamente, a cama até está mais elevada relativamente ao chão, tal como um palco.

Para concluir, penso que o amor é como o humor: só aparece com o passar dos anos. Só depois de muito se aprender é que estes têm lugar na nossa vida.

Amar tem de ser mais do que dar e receber. Amar talvez apenas seja ser e ser-se, de modo sincero.



Sílvia Gonçalves