quarta-feira, 1 de julho de 2009

Deturpando a realidade


A longevidade
É possível de aproximar,
Subornando-se a realidade
Com uma quantia exuberante,
Semelhante à água do mar,
Que é o chão do navegante.

O infinito
É possível contabilizar,
Subornando-se a realidade
Com uma quantia incalculável,
Semelhante ao amor de um lar,
Que é a base de uma sociedade aceitável.

O passar do tempo
É possível fazer parar,
Subornando-se a realidade
Com uma quantia desmedida,
Semelhante ao oxigénio do ar,
Que é essencial à vida.

A realidade
É possível falsificar,
Subornando-se a razão
Com uma quantia inatingível,
Que provém do coração
E evoca um som audível,
Na hora da negociação.

Sílvia Gonçalves

A matéria da vida


Viemos ao mundo
Sem uma lição estudada,
Com um desconhecimento profundo
E um caderno de nada.

Possuíamos existência, apenas.
Não tínhamos manual de instruções,
O que nos causava dilemas,
Sem aparentes soluções.

Gradualmente, fomos concebendo
Um saber algo abrangente.
O passado íamos retendo
Em função do presente.

Cada experiência,
Uma página caligrafada.
E, através da convivência,
Íamos enchendo o caderno do nada.

Num comportamento terno
E sem exagerado aparato,
Descobrimos que este caderno
Era o nosso auto - retrato.

Era um caderno normal
Cuja capa não era forte.
E quando chegou ao final
Metaforizou a morte.

Sílvia Gonçalves