quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Saí dali. Procurei outro refúgio.
Fui dar a uma cabana coberta de pó. Também com pó estavam meus desejos.
Movida pelo cansaço, adormeci. Sonhar a dormir é mais tolerável.
O que iria a minha mente engendrar desta vez eu não sabia mas decidi correr o risco.
Digamos que ela não foi muito criativa uma vez que deu continuidade ao meu sonho acordado.
Naquela cabana coberta de pó, teci a continuação do mistério das sombras à beira rio.
Eu era feita de cera e havia outro alguém também assim feito. Éramos corpos de cera que respiravam.
Num instante e sem pedir licença, um raio de sol atingiu-nos. Fez-nos derreter. Não éramos feitos de gelo mas derretemos. Não foi o fogo a extinguir-nos mas foi o sol. Não éramos a história previsível que todos os contos albergam. Éramos nós.
Felizmente que de cera não eram as nossas entranhas nem o nosso coração. De cera era apenas o manto que nos cobria.
Assim, depois de o sol nos libertar ficamos genuinamente nós.

Continua...

Sílvia Gonçalves