sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Em todo este mundo
Encontro locais suspensos
Aos quais não pertenço.
Mesmo assim tu insistias,
Quebrando as minhas poesias.
Propago um suspiro profundo
Ao avistar rostos tensos
Quando perco, quando venço.
Todos os teus enormes estragos
Enredam os meus versos velados.
Quando falo, quando penso…

Sílvia Gonçalves

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Quando as estrelas começam a brilhar, a noite abre os olhos e observa o mundo com mais facilidade. Vislumbra os vales e as montanhas, restaurando a paz a cada lugar. Observa os rios e o Oceano, as praias e os prados, distribuindo calma a cada recanto.
Acontece, por vezes, cometer pequenos erros como dar as boas-vindas ao Verão antes de ter tido lugar a Primavera. Porém, quando lacunas dessas sucedem, o dia auxilia-a. Este último, apesar de não possuir estrelas que o iluminem, vê ainda melhor tudo o que acontece comparativamente à noite. Possui o sol.
A Natureza foi meticulosamente pensada e carinhosamente concebida.
Quando os camponeses tocam guitarra em torno das fogueiras é a noite que os escuta. Mas quando os pássaros chilreiam pela manhã é o dia que os ouve. Nisto vejo igualdade e justiça.
A lua está rodeada por estrelas e o sol por nuvens. A isto chamo companheirismo.
A noite sente o cheiro da terra adormecida e o dia sente o odor da terra erguer-se do seu sono profundo, o que revela o desfrutar os prazeres da vida.
Tanto num cenário nocturno como num diurno paira a vida que acontece, a magia da sucessão das horas…
Em cada noite nasce, pelo menos, uma vida. Em cada manhã há quem acorde com alguém do lado. Precisamos uns dos outros.
No mesmo minuto em que gira a roda de uma cadeira de rodas gira a roda de um moinho. E, no mesmo momento em que alguém deixa cair uma lágrima, há uma folha de árvore que transpira uma gota de orvalho. Trata-se de instantes coincidentes e ignorantes.
O nevoeiro que povoa as serras pretende ocultar a beleza das mesmas, esquecendo-se que, quando os raios de sol incidem sobre ele a sua luz, o cenário se torna ainda mais belo. É invejoso e avarento o nevoeiro ao querer guardar só para si cenário tão deslumbrante. Quando temos algo ou alguém valioso na nossa vida não devemos ocultá-lo. Devemos antes partilhá-lo com o mundo porque não somos donos de nada, mas apenas espectadores e meros acompanhantes. Tentar prender e/ou esconder um ser livre é dos maiores crimes que se podem cometer.
Por vezes, tento esquecer-me das coisas. Esquecer-me de mim mesma, até. Só para poder olhar tudo o que me rodeia de modo inocente, com genuína destreza. Com mais simplicidade.
Sempre que recuo o meu andar pretendo bloquear os sentidos e registar apenas um determinado momento temporal que, por algum motivo, mereceu a minha melhor atenção. Às vezes permaneço imóvel, outras

deambulo nem que seja com o pensamento.

Sílvia Gonçalves