sábado, 17 de julho de 2010

Há nuvens no olhar


Sempre que corriam nuvens desprotegidas pelo céu eu sabia da proximidade de mais uma tempestade. Não era necessário o bramido das aves, o baile das folhas no ar, nem sequer as variações da temperatura.
Quando, um dia, fui ao mar, ousando navegar como um marinheiro, desbravou-se um aglomerado de nuvens escuras, pelas velocidades dos ventos. Por essa altura, rodopiava no ar um pedaço de tecido cor de trigo. Não fosse eu realista e acreditaria ter provido da roupa de alguma sereia.
Mas, voltando às nuvens… ninguém pode duvidar da sua efemeridade. As nuvens são os fracassos da vida. Não passam de gotas de desilusão que, um dia, acabam por escorrer, morrendo. Todavia, têm sempre a opção de purificar, lavando.
Só quero realmente dizer que as nuvens que nos assombram os olhos são reversíveis. Nunca duram para sempre.


Sílvia Gonçalves