segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tempestade em nós



Há dias em que apenas chove no meu mundo...Chovem saudades, chovem intrigas, chovem conflitos, chovem tristezas...

Tudo o que faço é abrir o guarda-chuva dos sorrisos e mostrá-lo ao mundo. Porque, quando chove em nós mesmos, mesmo ao nosso lado pode estar o sol mais brilhante do mundo.

Não se deixem molhar!

Sílvia Gonçalves

Identidade




Hoje mudei de nome.
Chamo-me apatia
Porque a alma me consome,
Seja noite seja dia.

A vida para mim mudou.
Já não sou quem era.
Agora eu sou
A apatia que cega.

Este letargo,
Que em mim se exalta
Mergulha-me num lago
De maré baixa e maré alta.

Já não sou uniforme.
Agora, vou sendo.
Mudei de nome.
Vou renascendo.

Sílvia Gonçalves

Fusão


Há dias em que me apetece
Fundir com a Natureza.
Ser uma montanha agreste,
Ser o mar azul-turquesa.

Fazer do meu coração
A vida de um planalto.
Ser a lava de um vulcão,
Ser raiz presa no asfalto.

Fazer das minhas veias
As veias da terra.
Ser parte das teias
De uma aranha negra.

Há dias em que me apetece
Mudar de temperamento.
Evocar uma prece
E soltar o cabelo ao vento.

Sílvia Gonçalves

domingo, 19 de julho de 2009


Se eu fosse uma flor?
Soltava as pétalas ao vento
E guardava todo o calor
Para dormir ao relento.

Se eu fosse mar?
Desprendia-me dos rochedos
Para poder respirar,
Libertando todos os medos.

Se eu fosse horizonte?
Guardaria todos os navios
E seria a fonte
De tesouros perdidos.

Se eu fosse bola de sabão?
Preferia ser palhaço
Para te tocar o coração
E te dar mais um abraço.

Se eu fosse imortal?
Cansar-me-ia da vida
Porque viver uma vez é normal
Mas mais que isso já é teimosia.

Sílvia Gonçalves

sábado, 18 de julho de 2009

Para o blog "Pedaços de qualquer coisa"


Em agradecimento ao selo que me ofereceste e por visitares assiduamente este meu cantinho, tenho este diploma para ti :)
Bjinho

O fim do princípio



Todos nós somos
Animais.
Então porque nos impomos?
Por sermos racionais?

Destruímos o mundo
Com a ciência e a tecnologia
Mesmo sabendo, lá no fundo,
Que tudo isto é excesso de ousadia.

Criam-se curas para salvar
E curas para abater.
Quando é que a humanidade vai notar
Que o planeta está a morrer?

Agimos no hoje,
Esquecendo o amanhã.
É um egoísmo que vem de longe
E jamais terminará.

Não vos faz pena
Matar os animais?
Não é isto um problema?
Seres tão únicos e leais.

Para espiar
Criou-se o GPS.
Depois, para relaxar
Inventa-se pastilhas anti-stress.

Que raiva que me causa
Este mundo artificial.
É uma raiva que não pausa
Envolta neste “paraíso” fatal.

Continuem a pensar no comodismo
E a guiar esta triste frota.
Eu até vou usar um eufemismo
Ao dizer que vamos todos bater a bota.

Mas o Homem não pensa assim.
Acha-se um Deus, um dominante.
E quando já só restar o fim
Não haverá ciência que se levante.

E, embora humana, digo
Que aí o Homem havia de sofrer.
Havia de perder o rumo e o sentido,
Pagando pelas vidas que deixou morrer.

Sílvia Gonçalves

sábado, 11 de julho de 2009

Carta desviada

Olá
Meu grande amor!
Escrevo-te para dizer
Múltiplas coisas que sinto.
O meu coração já está a aquecer,
Sabes que não minto
E só agora comecei a escrever.
Mas o que dizer por palavras?
Coisas que nem o coração
Consegue alcançar.
Não da para transmitir por quadras
Nem através das ondas do mar.
São sentimentos profundos,
Que quebram as defesas
Do vazio
E atravessam diversos mundos,
Perpassam fortalezas,
Nadam no rio.
Coisas que me tornam
Tão pequena.
Coisas que transbordam
Da minha alma serena.
Não cabes dentro de mim
E eu dentro de ti não estou
Como poderei viver assim?
Quando pequena já não sou.

Sílvia Gonçalves

Porque há coisas que nunca se esquecem...


Porque há coisas que o tempo não apaga, o vento não leva e o coração não esquece, é chegado o momento de postar algo dedicado a uma grande amiga e prima! Espero, com isto, retribuir o teu acróstico :)
Para quem não a conhece, este poema será exclusivamente dedicado a uma prima muito especial que começava as cartas de infância deste modo: “já sei, a carta é enorme. Bem, só espero que quando acabares de ler ainda te lembres do início.” ou então assim: “ esta carta é um bocado meia toda ridícula mas é a minha mais melhor boa preferida.”
Parece estranha? Isto ainda não é nada :)
Mas o certo é que são as pessoas invulgares que mais relembramos…

Danni, o meu poema para ti aqui vai:

Era uma vez:
Duas crianças
Que, contando até três,
Desembrulhavam esperanças.

Tinham no seu ser
Uma alegria sem fim.
Apenas queriam viver
Como flores de um jardim.

Brincadeiras, travessuras…
Sempre unidas,
Vivendo aventuras
Desmedidas.

Desde as anedotas,
Passando pelas partidas
Ocultas atrás de portas
Ou de roupas escondidas.

Livres, soltas, sonhadoras,
O mundo era o nosso lar.
Sem leis, espaços nem horas
Era sempre tempo de brincar!

Sílvia Gonçalves

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Pensamentos vãos



E se eu caísse do céu,
Ao tropeçar num astro
E aterrasse num ilhéu
Ou no cimo de um mastro?

E se perdesse a identidade
E tudo o que daí pode advir,
Pela força da gravidade,
Uma vez que estava a cair?

E se eu ganhasse asas
No momento da queda?
E pousasse em casas
Feitas de pedra?

E se eu parasse de sonhar,
Acordando para a realidade?
Certamente iria constatar
Que ganhar asas e voar
Não é próprio da humanidade.

Sílvia Gonçalves

Amar

Este poema foi escrito há uns aninhos atrás...como tal, está repleto de sentimentos que já não sinto...é interessante ver como estes estão em constante mutação...o que senti ontem não é o que hoje sinto e será diferente do que vou sentir amanhã....

Amar é ter um jardim
E querer apenas uma flor.
Amar é o que és para mim
E assim se vive o amor.

Temos todo o mundo
Mas falta sempre alguém,
Que nos acalme e abrace
E que nos ame também.

Amar é sentir, de repente
Essa tua pele quente.
É sentir falta,
É chorar.
É subir uma montanha
Só pelo prazer de a escalar.

És um oceano
Liberto do mar,
Que de mim está perto
Mesmo se estando a afastar.

Por entre noites
Solitárias,
Angustiantes,
Sinto sempre uma presença,
Uma alma que se esconde.
Amar é quem pensa
Levantar-se sempre,
Ainda que tombe.

Nos caminhos vazios do infinito
Por vezes, solta-se o grito
Que nos diz o que realmente é amar.
E os sentimentos desprendem-se, a flutuar.

E como a ínfima migalha de pão
Tem o seu valor,
Tu vales para o meu coração
E assim se vive o amor.

Sílvia Gonçalves

segunda-feira, 6 de julho de 2009

(Vi)ver-te


Foi bom viajar contigo,
Conhecer um pouco mais
Do teu mundo.
Estar ao teu abrigo,
Deixar os dias banais
E tocar no teu fundo.

É indescritível a tua presença
E tudo o resto que me cativa,
De um modo especial.
Não sei se é elogio ou ofensa
Por ti dar a vida,
Se sou uma simples mortal.


Sílvia Gonçalves

Amar-me-ás sem saber?


Pegas-me a mão
Sem querer.
O que te move é o instinto,
Ou talvez o coração.
Começo a tremer…
Fazes-me carícias
Mesmo sem notar.
O que te move é o prazer,
Ou talvez esse doce olhar.
Fazes-me estremecer…
Lanças-me palavras ,
Que tocam suavemente,
As minhas mãos suadas
E todo o ar envolvente…

Sílvia Gonçalves

...



Começa a bater leve,
Essa musica que me faz
RECORDAR-TE!
Sinto o teu sorriso,
O brilho da tua voz,
Os gestos que me prendem.
És felicidade breve,
Mundo alado que me traz
Para o AMAR-TE!
Faço o que é preciso
Para haver o “nós”.
Os carinhos rendem.

Sílvia Gonçalves

domingo, 5 de julho de 2009

Tu e a noite


A noite saiu à rua,
Num dia especial,
Em que a tua amargura
Que, normalmente, perdura
Se tornou fatal.

Ela vestiu-se de negro
De uma forma ocasional,
Livre no seu enredo,
Ela saiu, sem medo
E tu, com esse ar fatal.

Parecias mais sombrio
Que ela.
Envolto nessa amargura,
Caíste do poderio.
O calor passou a frio
E acendeste uma vela.

Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Deturpando a realidade


A longevidade
É possível de aproximar,
Subornando-se a realidade
Com uma quantia exuberante,
Semelhante à água do mar,
Que é o chão do navegante.

O infinito
É possível contabilizar,
Subornando-se a realidade
Com uma quantia incalculável,
Semelhante ao amor de um lar,
Que é a base de uma sociedade aceitável.

O passar do tempo
É possível fazer parar,
Subornando-se a realidade
Com uma quantia desmedida,
Semelhante ao oxigénio do ar,
Que é essencial à vida.

A realidade
É possível falsificar,
Subornando-se a razão
Com uma quantia inatingível,
Que provém do coração
E evoca um som audível,
Na hora da negociação.

Sílvia Gonçalves

A matéria da vida


Viemos ao mundo
Sem uma lição estudada,
Com um desconhecimento profundo
E um caderno de nada.

Possuíamos existência, apenas.
Não tínhamos manual de instruções,
O que nos causava dilemas,
Sem aparentes soluções.

Gradualmente, fomos concebendo
Um saber algo abrangente.
O passado íamos retendo
Em função do presente.

Cada experiência,
Uma página caligrafada.
E, através da convivência,
Íamos enchendo o caderno do nada.

Num comportamento terno
E sem exagerado aparato,
Descobrimos que este caderno
Era o nosso auto - retrato.

Era um caderno normal
Cuja capa não era forte.
E quando chegou ao final
Metaforizou a morte.

Sílvia Gonçalves