quarta-feira, 1 de abril de 2009

Vagueando pela mente


Um dia, parei
No recanto do meu mundo,
Sem rumo nem lei,
Só com um vazio profundo.

Subi a escada do pensamento,
Passando pelo patamar da razão.
E cruzei-me com um velho avarento,
De seu nome Coração.

Surgiu, entre nós, uma conversa
Que rapidamente terminou,
Porque o velho estava com pressa
E quase nem me ligou.

Continuei o meu destino
Até alcançar a imaginação,
Que me tratou com carinho,
Melhor que o velho Coração.

No caminho de regresso
Tropecei num objecto.
E confesso,
Que me desviou o trajecto.

Mas, na vida, isso acontece até à morte,
Pensando que vamos para Este
Somos arrastados para Norte.
O destino é que nos tece.

Sílvia Gonçalves

Do que tenho medo


Não tenho medo da escuridão
Nem de animais rastejantes.
O que me assusta é a solidão
E certos sentimentos importantes.

Vou tentar explicar…

Eu temo a alegria,
A sua efemeridade.
Por isso, não tenho a ousadia
De a tornar realidade.

Tenho medo do calor,
Se a seguir vou gelar.
Por isso, fujo do amor
Para não me constipar.

Aquilo de que tenho medo
É saber que o que tenho hoje,
Pode não passar de um segredo,
Que, se ventar, se escapa, foge.

Sílvia Gonçalves

Persistir


Quando apenas me restavam as cinzas,
Voltei a queimar.
Fiz das tripas coração
E transformei-as em carvão.

Quando as velas se quebraram,
Acendi um castiçal
E reavivei a iluminação,
Com o gesto de uma mão.

Se o mundo estiver a findar
Ainda o posso soerguer,
Com a força que tiver.
Se o mundo, enfim, deixar.

Sílvia Gonçalves