sexta-feira, 26 de março de 2010

Um mistério qualquer



Tão depressa se deseja
Como de repente se abandona.
O que se serve na bandeja
É uma inquietude medonha.

Dizem que é amor,
Dizem que é paixão.
Há quem lhe saiba o sabor.
Há quem viva na escuridão.

Mais que um turbilhão de ideias
E um misto de sensações,
Na barriga sentimos sereias
E no peito tubarões.

Recorrendo amargamente
À doçura deste enleio,
Não sou forte nem valente,
Nem sequer tenho receio.

Sílvia Gonçalves

Meninos de ninguém




Meninos de fome,
Que vestem maus tratos,
Com corações sem nome.
De dor e guerra fartos.

Não é feliz vossa vida.
Não é suficiente a união.
Estais em constante partida,
Sem ter quem vos pegue na mão.

Sois meninos sem amor,
Desprovidos de amizade.
Sois frutos sem sabor.

Nos olhos nada vos brilha.
Andais cá sem andar.
Vítimas desta armadilha.

Sílvia Gonçalves

Comboio da minha vida


Neste comboio da vida
Onde, por vezes, fico abarcada
Tentando descobrir a saída
Ou, apenas, a carruagem adequada
Viajo incessantemente,
Numa procura imensa
De alegria que dure para sempre
E de luz perpétua e intensa.

Se embato sem querer
Foi o meu destino que prometeu
Numa circunstância eleger
Um comboio como o meu.
Desde que o choque não abale
Quem comigo possa trazer
O meu destino que fale
Justificando esse embater.

Sílvia Gonçalves