Tudo começou
num tempo distante. Há muito muito tempo atrás (como normalmente se diz nas
histórias). Uma jovem rapariga tropeçou num objeto. Melhor dizendo: em metade
de um objeto. Metade de um coração. Inicialmente pareceu-lhe algo disforme,
similar a uma face retratada em perfil, de um jeito abstrato. Só depois reparou
ser metade de um coração. Daqueles corações “comerciais” que simbolizam o amor.
Os corações reais são bem diferentes, cavados de artérias e veias que lhe conferem
anatomicamente uma forma nada romantizada. Um pouco grotesca até. Ia ela
descendo uma calçada com pedras de vários formatos e relevos quando, por fim,
acabou por pegar na referida metade do coração. Questão que o mais comum dos
mortais colocaria: Quem terá a outra metade? Com Maria (a jovem em destaque)
não foi diferente. Quem teria a parte que encaixava no “seu” coração? Acrescento:
Quem terá as metades que preenchem as nossas dúvidas, que acalentam os nossos
receios, que embalam os nossos pesadelos? Quem as terá afinal?
Sílvia Gonçalves
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