quarta-feira, 1 de julho de 2009

A matéria da vida


Viemos ao mundo
Sem uma lição estudada,
Com um desconhecimento profundo
E um caderno de nada.

Possuíamos existência, apenas.
Não tínhamos manual de instruções,
O que nos causava dilemas,
Sem aparentes soluções.

Gradualmente, fomos concebendo
Um saber algo abrangente.
O passado íamos retendo
Em função do presente.

Cada experiência,
Uma página caligrafada.
E, através da convivência,
Íamos enchendo o caderno do nada.

Num comportamento terno
E sem exagerado aparato,
Descobrimos que este caderno
Era o nosso auto - retrato.

Era um caderno normal
Cuja capa não era forte.
E quando chegou ao final
Metaforizou a morte.

Sílvia Gonçalves

1 comentário:

Luís Gonçalves Ferreira disse...

Simplesmente do melhor que já escreveste. Assim melancólico, badalado, sentido, forte. Gostei do final: seco como a própria morte.

:D

Beijinho