sábado, 3 de abril de 2010

Prefiro gravar


Recordar não é necessariamente mau. Se fizer da realidade um livro de recordações vou permanecer enclausurada numa gaveta coberta de pó e marcada pela velhice.
Inovar a cada dia não é necessariamente bom.
Restam dúvidas que nos levam a questionar o nosso fundamento existencial.
Às vezes custa, outras não.
Ressaltar paredes e becos faz crescer.
Arranhar as nuvens com a ponta dos dedos dos pés faz rir.
Fazer cascatas de choro faz florescer uma nova floresta.
Escorrer sangue numa pedra limpa não é sujar, é purificar.
Tocar harmonias românticas faz contorcer os corações e estremecer a alma.
Todas estas sensações são reversíveis e passam a cada segundo no diapositivo da nossa curta e melada vida.
O que, com gozo, gosto de fazer é deixar as fotos de lado e usar gravações. Não é que o som e o movimento me fascinem incomensuravelmente. Mas é pelo prazer de fazer batota com a vida que teima em fragmentar todos os momentos quando o que quero é que neles permaneça a continuidade.
Vida, não és só tu que brincas!

Sílvia Gonçalves

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