sábado, 5 de fevereiro de 2011

Alianças tiradas

É sabido que as coisas nascem e morrem. Realmente elas nascem. E, de facto, também morrem.
Quando as alianças são retiradas, ainda subsiste por muito tempo a sua sensação, o seu peso, a sua forma e o seu poder, a sua carga simbólica e afectiva. Há ainda a considerar a marca literal que fica na pele. Uma pequena tira fina mais clara que a restante. Assemelha-se à pequena parte que a pessoa a ela correspondente ainda ocupa no coração. Mas, com a força inexorável do tempo, essa marca acaba por esbater-se, não se distinguindo mais os tons na pele sofrida.
À medida que essa marca se oculta, oculta-se também a imagem da pessoa que se amou. Cada vez é necessário um esforço maior para se conseguir recordá-la. Os seus traços não são visíveis como sendo bem definidos. Já para não falar do seu odor. Este apaga-se por completo e só é evocado quando um muito parecido paira no nosso ar.
As coisas evoluem e as mais velhas da vida, as que ficaram bem lá atrás, acabam por morrer.


Sílvia Gonçalves

Sem comentários: