sexta-feira, 1 de maio de 2009

Olhares esquecidos


Ia descendo a rua
Numa noite sem lua,
Onde a escuridão
Me queria dar a mão.

Estremeci…
E foi quando vi
Um cão que me olhava,
Enquanto passava.

Olhar terno.
Olhar sereno.
Que nem se moveu
A nenhum movimento meu.

O meu medo foi em vão
Perante tão dócil cão.
Tive vontade de lhe sorrir,
De saber o que estava a sentir.

E houve um momento,
Em que senti cá dentro
Que o consegui entender,
Apesar de a outra espécie pertencer.

Fui-me afastando
E ele sempre olhando.
Mas mais nada tinha para lhe dar
A não ser um último olhar.


E aquele animal,
Com carácter tão especial,
Fez-me reflectir
No mal que está para vir.

Quantos olhares ignoramos?
Nem sequer nos importamos…
E o futuro somos nós?
Que deixamos olhares sós…


Sílvia Gonçalves

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