Nós podemos pisar vidas, literalmente. Não me refiro, portanto, ao pisar metafórico que alberga uma segunda e má intenção. Exemplificando, não me refiro ao pisar alguém com uma palavra arrogante ou com uma batota num jogo qualquer. Refiro-me a esta cena que observei: uma jovem caminhando na rua tem de escolher onde colocar os pés para não pisar um magote de pombas que, despreocupadas, não se desvi...avam do caminho. Ora, sendo as pombas dotadas de vida, a jovem teve a necessidade de desviar-se delas para não as pisar. Normalmente damos passos descontraídos sem olhar para o local exato onde a sola do sapato se irá apoiar. Neste caso em particular, surgiu a urgência de, meticulosamente, selecionar os espaços do solo a ser pisados. Doutro modo, aquela jovem pisaria vida.
Sílvia Gonçalves
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