sábado, 19 de dezembro de 2009

A temperança

Davam tudo por aquilo que julgavam ser real. Pobres dos que são moles do coração pois para eles a vida é dura.
Reforçavam os sentimentos. Menosprezavam o isolamento.
Tinham origens opostas e foram cruzar-se alcançando a união. Mas não era possível continuar a durar. Como sustentar forças contrárias? Como controlar o incontrolável? Não, não podia ser. Tinham de acordar.


Sílvia Gonçalves

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vem

Vem comigo,
Senta-te ao meu lado.
Vamos juntos ver o mar,
Correr pela areia.
Vem comigo,
Desprende-te da luz solar.
Vamos ficar na noite.
Vem.
Vem comigo
Que o tempo não perdoa.
Não permitas o passar das horas
longe de mim.
Vem.
Vem comigo.
Sílvia Gonçalves

O envolvimento

Estavam mais próximos que nunca. A distância era algo que não conheciam.
Em vez dele ter vontade de a morder, desejava acariciá-la e apertá-la contra o peito.
As faíscas que emergiam eram resultantes de um sentimento positivo. Não havia espaço para o repúdio nem para a maldição.
Escreviam a sua própria história, alheios ao mundo. Se o tivessem em conta, já não estariam enlaçados mas sim numa dura luta pela sobrevivência. Afinal, ela era um cordeiro e ele um leão.

Sílvia Gonçalves

sábado, 5 de dezembro de 2009

A novidade

Sim. Ela tinha algo dele nela. Mas ela era um cordeiro e ele um leão.
Como podem dois seres tão distintos, de naturezas tão diferentes se fundirem num só? Ninguém o sabia.
Enquanto ela se resguardava da aventura ele atravessava florestas. Enquanto ela dormia ele rugia. Enquanto ela queria sorrir ele queria soltar raiva.
Ele matava. Ela morria.
Existirá um sentimento sem fronteiras, capaz de superar a própria natureza que nos reveste?
Sílvia Gonçalves

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Num banco de jardim, num dia frio


Descobriram que se amavam e, numa noite, encontraram-se.
Ele tentou disfarçar e ela quase nem se moveu. Amavam-se camufladamente.
Nessa noite chovia. Ambos necessitavam de calor naquele fim de dia. Abraçaram-se.
Permaneceram assim uns instantes.
As suas mãos tocaram-se. Olharam-se nos olhos.
Não se expressavam porque não podiam. Havia uma força maior a impedir o amor que sentiam. Um típico conto de fadas, mas real.
Ele referiu: Amo-te, mas sei que não pode ser. Por isso, vou permanecer assim, abraçado a ti, apenas.
Momentos mais tarde ela respondeu: Sabes, eu também te amo. Amo-te com a força deste vento que nos faz precisar de calor.
Permaneceram horas assim...juntos mas afastados.
Quase já congelado pelo frio laminante, ele acrescentou: Em virtude do que sinto por ti podia fazer amor contigo, agora. Mas não o farei porque te amo. Ela respondeu: Sei que não o farás. Eu confio em ti.
E ali permaneceram, dois corpos com vida.
Mais que amor havia respeito. Não podiam entregar-se ao que estavam a sentir. Assim, não fizeram amor porque se amavam.
Esta é a real prova de que para amar apenas basta dormir-se abraçado, num banco de jardim, numa noite fria.


Sílvia Gonçalves