terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Gargalhar força

Tenho mesmo de escrever.

Perdoem-me perder estes minutos.

Tem de ser.

Mesmo!

Os dias não têm dado tréguas

E só escrevendo e ouvindo

Esta música relaxante

Me permito voltar a ser

Eu mesma!

Uffff

Que tormento tem sido.

Não tirar os olhos dos papéis.

Mas foi o que escolhi!

Um monte de insatisfação

Apodera-se.

Não vou deixá-la vencer!

Olhar em frente e sorrir

Sempre!

Sorrir, sorrir, sorrir

A minha única defesa eficaz!

Sílvia gonçalves

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Reflictam para vocês mesmos

Se há momentos em que abro os olhos e de seguida os fecho quase sem pestanejar? Claro que há.
Se há alturas em que inspiro mas respiro de seguida, quando o que queria era reter o ar mais uns segundos? Sim, já me aconteceu.
Se gostava de ter o cabelo aprisionado quando o vento faz dele o que quer? Sim, imensas vezes.
Eu não sou de ferro! Ninguém o é.
O que nunca fiz foi afectar alguém propositadamente. Isso não. Coisa feia de se fazer. Cai mal. Isso não.
Mas já matei muitas formigas e seres semelhantes.
Sou uma alma boa mas desconcertada. Aqueles seres VIVOS estavam lá (as formigas) mas apeteceu-me.
Se fosse ao contrário não gostaria, certamente. Mas e agora?
Afinal até que ponto somos humanos ao não danificar os da nossa espécie intrometendo-nos nas demais?
Vá, reflictam para vocês mesmos. Somos o quê afinal e para que fins nos movemos?

Sílvia Gonçalves

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Sou feita de palavras e de imaginação



Ao tentar despregar-me da poesia
Correm-me lágrimas pelo rosto,
Pois ela é a minha alegria,
O meu maior pressuposto.

Se me obrigassem a parar de sonhar
Romperiam com o meu mundo
Porque quando estou a divagar
Busco o meu sonho mais profundo.

As frases correm-me na alma
Ainda que me revolte contra os papeis.
Elas conferem-me alento e calma
São as minhas amigas fiéis.

Proclamo o que sinto,
Disso ninguém pode duvidar.
O meu maior labirinto
É feito de imaginar.

Escrever é o meu maior bem.
É assim que vivo a vida,
Deixando de ser simples refém
E passando a pessoa activa.

Amo as virgulas, os pontos e as palavras.
Quem mas tira, tira-me o querer.
São o meu único conto de fadas
E permitem-me escrever!

Sílvia Gonçalves



Quando corríamos pela areia e te escondias nos rochedos era sonho, nada mais. Na realidade nem chegamos a pisar a praia.
As vezes que me pegavas ao colo era ilusão, nem chegaste a tocar-me.
O tempo que gasto a pensar em ti nem tempo se chama. É um conjunto de filamentos perdidos que para nada serve. Nada mais.


Sílvia Gonçalves

Ser estranho

Se abro ou fecho a porta? Não sei.
Os suaves recantos que estilhaçam a cada pisada tua são feitos de vidro. Pareces pisá-los como quem se abraça na areia dourada do mar.
Tu não tens noção da realidade. Não pareces saber que o que hoje desperdiças podes não mais alcançar no amanhã.
Se me deito à noite é porque sei que há um dia pronto para amanhecer horas mais tarde. Tu nem nisso reflectes.
Deves ser um corpo celeste com vida porque deste mundo nada sabes. Chegaste a mim por entre as estrelas ou caíste no Oceano? Podes revelar.
Eu não preciso esconder-me. Sou humana! Mas tu não.
Uma vez observei-te a pintar. Pintaste uma galáxia perdida. Não sabias que eu estava lá mas deixaste cair o pincel. Também sentes a presença humana? Afinal de onde vieste?
Um dia hei-de saltar uma vedação só para ver se me salvas, se despertas dessa bola que te envolve e vens viver o mesmo mundo que eu.
Se me salvares ficaremos vivos, se não o fizeres pelo menos vai lá depois. Limpa-me os ferimentos, nem que seja com as tuas lágrimas. Isto é, se chorares porque nunca te vi transmitir emoções.

Sílvia Gonçalves

A minha água salgada

Sou um mar de ideias

E todas elas são imaginação,

Que quando se cruzam com sereias

Explodem sabor e paixão.

Vivo a pensar

E assim passa o meu tempo,

Que é feito de mar

Onde se esconde o sonho do momento.

Ostras são as minhas percepções

Que velam pérolas preciosas,

Formulam composições

E músicas melodiosas.

Sou feita de algas flutuantes

Que não chegam ao profundo,

Preferem ares mais sibilantes,

Preferem admirar o mundo.

Tenho ainda detritos de marés

Que não chegaram a rebentar,

Evitando molhar os pés

De quem corria à beira mar.

Sílvia Gonçalves

A separação

Houve uma viagem apenas que os fez despertar. O que sentiam duraria apenas o tempo de uma borboleta ferir uma asa.
Acordaram.
Separaram-se.
Choraram. Nunca antes se tinha visto um leão chorar, pelo menos do jeito que este chorava. Um jeito de cordeiro que perde o resto do rebanho. Eis a grande descoberta! -"Jeito de cordeiro". Seria possível? Ele, a pouco e pouco, estar a fundir-se nela, perdendo a sua própria identidade?
Não era concebível, mas se estivesse a acontecer poderiam voltar a enlaçar os corpos um no outro como quem busca calor numa noite de céu limpo, em que é possível contemplar as estrelas.

Sílvia Gonçalves