Se sou areia
És maré cheia.
Se sou luar
És o meu despertar.
Se és frescura
Eu nasci para ser tua.
Sílvia Gonçalves
quarta-feira, 18 de agosto de 2010
quinta-feira, 5 de agosto de 2010
Lição de vida nº2
Era uma paisagem descoberta que em nada chamava a atenção. Não era daqueles panoramas que se colam à vista, ofuscando-nos os sentidos. Possuía um pequeno cavalo feito de trapos cuja base era de madeira.
Quem via tal local seguia em frente, sem fotografar, sem criticar, sem mudar a respiração.
Com a sucessão dos dias e das noites, o referido cavalo foi envelhecendo. Com o passar das Primaveras e dos Outonos, foi degenerando. Nessa altura, quem por lá passava já perdia um pouco do seu tempo a contemplar tal objecto. O que seria? Tinha tão mau aspecto. Para que servia ou teria servido? Já tiravam fotografias na possibilidade de, mais tarde, vir a perceber aquilo que outrora havia sido um cavalo de trapos.
Quando os acontecimentos correm pela normalidade nem os notámos. Passam ao lado. Se, porventura, algo os modifica, nem que seja o simples mas incómodo passar dos anos, já são alvo de cuidadas atenções. Até os nossos sentidos são interesseiros.
Sílvia Gonçalves
quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Lição de vida nº1
Nem sempre as palmeiras se agitam com a força da brisa que corre. Por esse motivo e muitos mais, que não importam aqui deixar, ela partiu rumo ao deserto. Foi sozinha nessa jornada perigosa.
Caminhou dias a fio sobre areia delicada onde escreveu palavras efémeras.
De mochila às costas apeou-se por entre os cactos daquele solo arenoso na procura de algo mais vivo que ela, mais vivo que aqueles cactos transpirando verdura, mais vivo que o lagarto fugitivo que por lá passou.
Precisava de algo preso à vida que a fizesse sentir o sangue a correr nas veias e os poros a dilatar de pressão.
Não era aventura que ambicionava, não era diversão, não era loucura. Queria sentir a agitação suave da vida, o trémulo passar do tempo, os trilhos do destino.
Pouco lhe importava esbarrar contra um avião despenhado pois seguiria o seu caminho sem abrandar a marcha. De nada lhe serviria encontrar um poço repleto de água pois, se ele existisse, já estaria cercado de outras vidas. Nem só ela anda perdida pela vida.
Sentou-se para desenhar o sol a esconder-se nas dunas. Os seus dedos soavam tanto que deixou escorregar o lápis, o qual rebolou pelo chão por força da grande agitação do vento. Duas incongruências presenciadas: o sol tornar-se mais forte ao desaparecer e o vento soprar mais forte numa zona de baixa altitude. Era isto que ela queria - dificuldades. Pois só quem as vive é que vive realmente.
E ali, sem ser necessário encontrar algo mais vivo que ela, acabou por encontrar vida em si mesma. Por vezes, vamos tão longe procurar o que está guardado bem dentro de nós.
Sílvia Gonçalves
O que para mim são milagres
Acho milagre a pele se regenerar,
Acho milagre a lua preceder o sol,
Acho milagre um ser humano nascer de outro,
Acho milagre a água apagar o fogo,
Acho milagre uma árvore respirar,
Acho milagre a sucessão das luas,
Acho milagre bastar fechar os olhos para dormir,
Acho milagre ver sem olhar,
Acho milagre....VIVER!
Sílvia Gonçalves
Acho milagre a lua preceder o sol,
Acho milagre um ser humano nascer de outro,
Acho milagre a água apagar o fogo,
Acho milagre uma árvore respirar,
Acho milagre a sucessão das luas,
Acho milagre bastar fechar os olhos para dormir,
Acho milagre ver sem olhar,
Acho milagre....VIVER!
Sílvia Gonçalves
terça-feira, 3 de agosto de 2010
A origem das coisas
Uma folha mostrou-se nua, possibilitando o visionar dos seus feixes de seiva. Era verde e possuía pintas escuras.
Uma mulher despiu-se, possibilitando o visionar das suas veias. Era escura e possuía olhos pretos.
Misturaram-se no mar. A mulher e a folha. A primeira nadava e a segunda boiava.
A água do mar é salgada porque a mulher soltou lágrimas nela e possui ondas porque a folha rodopiava nela também, originando pequenos tufões.
É tão fácil desvendar mistérios quando sentimos em nós o pólen da imaginação.
Sem dúvidas não haveria lugar para a fantasia. Por sua vez, sem esta não haveria espaço para os sonhos. Seria tudo exacto e recto. Não gostava de viver assim. Por isso, incertezas ainda bem que existem.
Sílvia Gonçalves
segunda-feira, 2 de agosto de 2010
Se para ti sou selvagem
E espinhos me cravam o coração,
Estás a viver uma miragem
Que não é futuro, é recordação.
Se o tempo para ti não avança
E preferes colar-te ao chão,
Forma um novo modo de esperança
Que te preencha o coração.
Esperas mesmo conhecer
A alma de tudo o que ficou.
O difícil é viver
Com o grito que ainda não soou.
Percorro em bicos de pés o mundo.
Eu sei onde quero ir.
Sei navegar no azul profundo
E sei como fazer-te sorrir.
Sílvia Gonçalves
Pisa - nuvens
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