sábado, 19 de dezembro de 2009

A temperança

Davam tudo por aquilo que julgavam ser real. Pobres dos que são moles do coração pois para eles a vida é dura.
Reforçavam os sentimentos. Menosprezavam o isolamento.
Tinham origens opostas e foram cruzar-se alcançando a união. Mas não era possível continuar a durar. Como sustentar forças contrárias? Como controlar o incontrolável? Não, não podia ser. Tinham de acordar.


Sílvia Gonçalves

domingo, 6 de dezembro de 2009

Vem

Vem comigo,
Senta-te ao meu lado.
Vamos juntos ver o mar,
Correr pela areia.
Vem comigo,
Desprende-te da luz solar.
Vamos ficar na noite.
Vem.
Vem comigo
Que o tempo não perdoa.
Não permitas o passar das horas
longe de mim.
Vem.
Vem comigo.
Sílvia Gonçalves

O envolvimento

Estavam mais próximos que nunca. A distância era algo que não conheciam.
Em vez dele ter vontade de a morder, desejava acariciá-la e apertá-la contra o peito.
As faíscas que emergiam eram resultantes de um sentimento positivo. Não havia espaço para o repúdio nem para a maldição.
Escreviam a sua própria história, alheios ao mundo. Se o tivessem em conta, já não estariam enlaçados mas sim numa dura luta pela sobrevivência. Afinal, ela era um cordeiro e ele um leão.

Sílvia Gonçalves

sábado, 5 de dezembro de 2009

A novidade

Sim. Ela tinha algo dele nela. Mas ela era um cordeiro e ele um leão.
Como podem dois seres tão distintos, de naturezas tão diferentes se fundirem num só? Ninguém o sabia.
Enquanto ela se resguardava da aventura ele atravessava florestas. Enquanto ela dormia ele rugia. Enquanto ela queria sorrir ele queria soltar raiva.
Ele matava. Ela morria.
Existirá um sentimento sem fronteiras, capaz de superar a própria natureza que nos reveste?
Sílvia Gonçalves

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Num banco de jardim, num dia frio


Descobriram que se amavam e, numa noite, encontraram-se.
Ele tentou disfarçar e ela quase nem se moveu. Amavam-se camufladamente.
Nessa noite chovia. Ambos necessitavam de calor naquele fim de dia. Abraçaram-se.
Permaneceram assim uns instantes.
As suas mãos tocaram-se. Olharam-se nos olhos.
Não se expressavam porque não podiam. Havia uma força maior a impedir o amor que sentiam. Um típico conto de fadas, mas real.
Ele referiu: Amo-te, mas sei que não pode ser. Por isso, vou permanecer assim, abraçado a ti, apenas.
Momentos mais tarde ela respondeu: Sabes, eu também te amo. Amo-te com a força deste vento que nos faz precisar de calor.
Permaneceram horas assim...juntos mas afastados.
Quase já congelado pelo frio laminante, ele acrescentou: Em virtude do que sinto por ti podia fazer amor contigo, agora. Mas não o farei porque te amo. Ela respondeu: Sei que não o farás. Eu confio em ti.
E ali permaneceram, dois corpos com vida.
Mais que amor havia respeito. Não podiam entregar-se ao que estavam a sentir. Assim, não fizeram amor porque se amavam.
Esta é a real prova de que para amar apenas basta dormir-se abraçado, num banco de jardim, numa noite fria.


Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Tenho saudades tuas, não de ti!

Tenho saudades tuas mas não tens nada a ver com isso. São saudades do todo que és, não tuas!
São saudades imperfeitas porque te sabem contornar, atingindo apenas pequenos segmentos teus.
São saudades de porções não tuas por inteiro! Portanto, não tens nada a ver com isso!
Nem tens motivos que justifiquem o ser que és. Também eu não os encontro para justificar o que de ti apreendo. Pouco me importa o que és, sinto a tua falta. Não te procuro a ti, mas sim o todo que nem conheces que te compõe.
Se é confuso? Nada tens a reflectir sobre isso. Eu sinto saudades de gestos, de olhares e de palavras. De ti nada me faz falta.
Eu tenho é saudades tuas, não de ti!


Sílvia Gonçalves

Desvio


Entre sombras misteriosas
suprimos o nosso cansaço,
que cheira a cravos e rosas
mas que incorpora sargaço.

Fomos desviando o tempo
sem lhe instruirmos razão,
desprovendo o sentimento
que rondava o coração.


Já se desvairou todo o perfume.
Para onde foi eu não sei.
Mas isto não é um queixume!
Foi o caminho que tracei.


Sílvia Gonçalves

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Caminhos que trilhei

Paço a paço,
hoje vou
ao local que sonhei
suprir o mais profundo abraço.
O futuro a que me dou
hoje tenho-o, já o sei.


Contorno aquele passeio suave
que me traça o destino.
Se é real?Ninguém sabe.
Sigo o meu caminho.


E na relva embalada
pelo orvalho da manhã,
que é de luz e emite brilho,
atravesso aquela estrada
que a minha alma recordará
quando houver traçado outro trilho.


Sílvia Gonçalves

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Rio



Quase que me arriscava
a pisar aquela água lunar,
que por se encontar parada
não parecia afundar.
Foi numa noite de viagem
em que olhei o rio
e toda a restante paisagem
daquele lugar húmido e frio.
Parecia algo irreal
que o vento suavisou,
realçando um ondear
no rio que a noite proporcionou.
Sílvia Gonçalves

terça-feira, 10 de novembro de 2009

São anjos, são demónios


Rituais intempestivos
Que procuram desvendar
O maior dos perigos
Que paira pelo ar.

São princesas, feiticeiras
De burel e porcelana.
Juntam todas as maneiras
De te atirar para a lama.

São sebentas de amargura
Em bibliotecas de amor
Que duram uma aventura
De suave luz, suave cor.

Sílvia Gonçalves


domingo, 1 de novembro de 2009

Sente, porque é para ti


Era um lugar encantado
Rumo ao teu coração,
Onde o mel é amargo
E as nuvens tocam o chão.

E adormeço assim,
Sonho com as tuas mãos.
Espero que gostes de mim
E me preenchas os dias vãos.

Solto os sentimentos
Com toda a energia,
Focando todos os momentos
Em que fizeste magia.

Pensar em ti é ir
Sem saber se vou voltar.
Baralha-me o que estou a sentir,
Não sei o que é amar.

Grito, sorrio e páro
Assim é o meu viver.
Faço um pequeno reparo:
Afinal estou a morrer.

Sílvia Gonçalves

sábado, 10 de outubro de 2009

Rasgos na alma


Existem espaçamentos temporais
Que me corrompem a alma.
São intervalos irreais
Que me retiram paz e calma.


Vão rasgando o pensamento
E enganando a razão.
Duram um breve momento,
Nem chegam ao coração.

São amnésias,
Sem o ser.
Meras falésias
Que tenho de percorrer.

São instantes apurados,
Que rebolam sem parar
Como segredos amargos,
Que nunca sei escutar.

Sílvia Gonçalves

domingo, 4 de outubro de 2009

Recordação breve


Longos,
São longos os teus cabelos.
Tens uns lábios cor-de-rosas.
Albergas imensos segredos
No seio das tuas prosas.

Com a guitarra nos braços
Compões a música do momento.
Livre de desembaraços
Ditas as tuas leis, o teu tempo.

Os teus olhos ainda não captei.
A distância é traiçoeira.
Mas se são como sonhei,
São cor de laranjeira.

Eu sei lá se me conheces,
Se sabes ou não quem sou.
No seio das tuas preces
Certamente que não estou.

Nem o teu nome sei.
Pouca diferença faz.
Agora que te recordei
Não permitirei que te vás.

Sílvia Gonçalves

domingo, 13 de setembro de 2009

Nova era


Folhas arrastadas pela brisa
Numa era ocasional.
Ficam jornais pelo chão
Sem notícias piedosas.
O tempo não é opcional.
O tic-tac dita que horas são.
São idades tenebrosas.
Parece um velho casario
De rugas fundas.
Sofás de pó.
Com alcatifas cor de lã.
Soltam-se vozes de tumbas.
Toda a aldeia expira dó.
Houve-se no charco uma rã.



Eis que vem a nova era!
Com flores e princesas.
É chegada a primavera.
Acabam-se os tempos de tristezas.
Num unicórnio dourado
Vem um homem valente.
Que conduz seu próprio fado
Com um olhar doce e carente.
Atravessou vales e montanhas
Para à princesa chegar.
Rompeu suas próprias entranhas
Para a poder beijar.



Eis que volta a nova era!
Tempo de escuridão.
Já se foi a primavera
E os amores já se lá vão.



Mas a esperança é reinante!
Virão muitas mais eras.
O amor é uma constante
E o resto são primaveras.

Sílvia Gonçalves

sábado, 12 de setembro de 2009

Vamos lá imaginar...


Se fosses uma bola de sabão onde pensas que irias rebentar?

>por cima do oceano

>nos lábios de alguém

>em cima de algodão doce

>no vazio

>sob um campo de flores

>numa janela

>nas mãos de alguém

>na copa de uma árvore

>junto das nuvens

>no chão

>no cimo duma montanha


Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Nas asas do vento

Nas asas do vento,
Tento alcançar
O mais puro sentimento,
Que se pode guardar.
Envolta em harmonia,
Tento descobrir
A mais bela sinfonia,
Que se pode ouvir.
Há momentos
Em que se é especial,
No seio de sentimentos,
Dispersos numa galáxia celestial.
Os teus gestos sei de cor.
Sabem a maresia.
Proporcionam-me dor.
Proporcionam-me alegria.
Fechas-me a porta sem nenhum pudor
E escondeste à janela.
Resguardas todo o teu amor
Para uma eterna Cinderela.

Sílvia Gonçalves



domingo, 6 de setembro de 2009

Livre como só eu posso ser


Sou livre.
Sinto as batidas desta música,
À minha maneira!
Porque quem não me compreende
É melhor me abandonar.
Todas as mágoas que tive
Ficaram esquecidas na lareira,
Esperando uma chama
Para as queimar.
Sou diferente.
Que mal tem ser assim?
Há os que me acompanham
Com a força de um movimento.
Sou persistente.
Guardo dentro de mim
Pétalas suspensas no vento.
Não me assusta a solidão.
Adoro caminhar sozinha.
Sei de cor todos os passos.
E mesmo na escuridão
Faço da lua a minha
Acumulação de laços.
É bom sentir a vida
Como sinto.
Depositar-lhe a minha intensidade.
Avançar a página lida.
É bom ter alma e instinto
Para viver esta liberdade!

Sílvia Gonçalves

sábado, 5 de setembro de 2009

Trago-vos no peito


Hoje fui a um funeral. Não importa de quem. Não importa onde. Fui.
Não vou entrar em reflexões sobre a morte nem sobre a vida, nem sobre ambas. Seria entrar num ciclo de onde não me atreveria a sair.
Vou antes testemunhar aqui o que sinto por todos aqueles que amo. Porque amanhã pode ser tarde de mais. E eu não sei se existe mesmo outra vida. E também não sei se a morte é a porta para a vida eterna. Eu sou uma ignorante. Sou uma ignorante com sentimentos profundos que me fariam dar a vida por certas pessoas, apesar de todas estas dúvidas.
As pessoas por quem nutro o maior amor do mundo são, sem dúvida, os meus pais. É inexplicável transmitir o que por eles sinto.
Toda a restante família também tem um marco de extrema importância no meu coração.
Quanto aos amigos. São poucos mas os melhores de sempre. Pensar em tudo que já vivemos juntos é celebrar a verdadeira amizade.
Depois vêm todas aquelas pessoas que nem sabem que as trago no peito mas que faço questão de as trazer do mesmo modo: professores, vizinhos, idosos, crianças, incapacitados, pessoas que nem sei quem são mas de quem gosto... Porque há rostos que retenho por albergarem uma história comovente por trás.
E porque o amanhã é incerto achei por bem salientar que amo todos aqueles com os quais já contactei, embora de modos distintos.
Amanhã não sei mas hoje vivo por mim mas para todos vocês.
Sílvia Gonçalves

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Olhares deambulatórios


Já nem o céu azul consigo ver. Na minha mente, ele adquire os tons do teu olhar. Sei que apenas eu o vejo assim. Porque o céu é azul.
Existem várias aves a sobrevoá-lo, atravessando, assim, o teu olhar. Certamente nem as vês. Mesmo elas te invadindo os olhos. Porque o teu olhar está reflectido no céu apenas para mim.
Mal nascem os primeiros raios de sol, lá está ele. Que olhar tentador, místico, persistente. Dói olhá-lo por causa da intensidade da luz. Então, aguardo pacificamente a chegada da lua. Altura em que já não magoa olhar teus olhos. Eles brilham na escuridão.
Como os distingo de entre as estrelas? É simples. As estrelas são pequenas e os teus olhos ocupam todo o céu. Ocupam todo o céu que eu consigo alcançar. Porque, apesar do teu olhar estar por toda a parte, o meu é pequeno de mais para o abranger a todos os instantes.
Há dias em que o procuro e não encontro. Mas sei que está lá. Vejo as aves a contornarem-te o rosto.
É só por isto que as aves alteram as suas trajectórias. Para evitarem bater contra os olhares que no céu andam perdidos, à deriva.
Por isso, quando olharem o céu e vislumbrarem aves a voar em linha recta é porque vocês não estão a olhar com atenção e não vêem olhares perdidos.
Há dias em que o nevoeiro nos cega. Mas logo virá a luz do sol. E a seguir a da lua, que já não magoa.
Sílvia Gonçalves

Lençol branco


Um lençol estendido
Faz lembrar a neve pura
Que cai no solo esquecido
De uma ladeira escura.

Só o vento o agita.
Ele não tem forças para isso.
O sol é quem o purifica,
Salientando o seu branco maciço.

É feito de fibra boa.
Tecido que vale a pena.
Só a noite o apazigua.
Assemelha-se à lua serena.

Nele podemos descobrir
Todos os sonhos que temos.
E, se necessário, esculpir
Estes versos que escrevemos.

Sílvia Gonçalves




Um último adeus


Trago o peito apertado.
É triste este fado.
Uma vida a menos.
Somos meros seres terrenos.
Que descanse eternamente.
Seja relembrado ao sol poente.
Já as memórias se agitam
em locais onde as almas gritam.
Seja feita a sua vontade.
Já paira no ar a saudade.
Somos pequenos demais
Para sermos imortais.
Que a viagem seja curta
Sem ser preciso haver luta.
Armas e armaduras de ferro forte
Não fazem frente à morte.

Descanse em paz…

Sílvia Gonçalves

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

A fúria de um dia


Hoje estou tão revoltada
Que vou atirar as palavras ao papel.
Não me importa mais nada!
Que raiva tão dura e cruel.

Quero que as letras se agitem
Como agitada tenho a alma.
E que todos os astros coabitem
O espaço deste meu trauma.

Ai, se eu pudesse explodir!
Libertaria este furor.
Que inquietude estou a sentir.
Apertam-me paredes de horror.

Venham mil pratos
para partir.
Como se fossem retratos
Onde não estou a sorrir.

Há dias mesmo difíceis de lidar.
Dias em que o amanhã demora.
E em que só para contrariar
A tormenta não vai embora.

Mas existe um barco no escuro
Pronto para me guiar
Ao sitio onde o barulho
Provem das ondas do mar.

Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Estou em ti. Mas tão ausente.


Voando como sombras por cima de ti, vou longe, quase chego ao final.
Tenho receio que sintas a minha presença que teimo apagar a cada passo em frente.
Por vezes, cruzas-te comigo mas não pareces saber que estou sempre colada a ti.
Eu simplesmente te respondo, não tenho força para mais. O não pesa mais que o sim.
Mas tu pareces saber tudo. Pareces sentir a sombra que me esboça.
Talvez finjas não a sentir. Se calhar o teu não também pesa mais que o teu sim.
Eu parei de voar. Se me desloco até ti é por vontade da brisa não minha.
Eu decidi desprender-me. Agora a brisa vem e apodera-se dos meus desejos.
A seguir será o vento? Um tufão? Um vendaval?
Quando é que irás esvair-te como areia fina?
Pega num castiçal e incendeia a minha sombra. Faz isso, só hoje.
Deixa-me viver um dia só meu. Liberta-me de ti mesmo sem saberes que me prendeste.
Só hoje.
Sílvia Gonçalves

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Melodia do amor


Acordes tão breves,
Que deixo de ouvir
As palavras que queres
Que eu alcance a sorrir.


Então…

Aumentas a intensidade
Dessa tua melodia,
Que me faz ter vontade
De a ti chegar, um dia.

Porquê?

Não sei explicar o que sinto,
Mas não deixes de tocar
Essa sinfonia de céu limpo,
De raio de sol a brilhar.

Até quando?

Vais permitir-me ouvir sempre
As batidas do teu coração?
Não me soltes de repente.
Não me peças perdão.

Esperança…

Não sei como terminar
O que sinto por ti.
A tua melodia está a findar
E quase nem a ouvi.


Sílvia Gonçalves

Visitem o blog: http://rafaelabeleza.blogspot.com/

Trata-se de uma menina sonhadora que comporta magia e cor. É especial. Vai para lá das coisas imediatas, procurando o seu próprio significado em tudo que vê. Alegre mas com alguns restos de melancolia que a levam a divagar e a ESCREVER. É isto que nos aproxima!
Uma pessoa que vale mesmo a pena conhecer e que acredito que terá sorte na vida. Daquelas pessoas que olhamos e pensamos para nós: ela não é uma jovem igual a tantas outras. Ela tem potencial.
Responsável, fantasista, atenta e alheia a tudo é assim que te vejo Sónia Rafaela. E eu também aprendo contigo. Contagias com esses olhos enormes que explodem brilho e alegria mesmo tendo em conta as adversidades da vida. És uma guerreira! Contigo nunca haverá gente a caminhar sozinha pela vida.
Acredita em tudo que és e no que podes alcançar. Eu acredito e estarei sempre na primeira fila a apoiar-te.
Quanto à escrita, esvaia sempre tudo o que sentes ainda que te pareça estranho porque o que escrevemos são na mesma vocábulos com a simples diferença de nascerem da tinta e não da voz.
Tu vais muito longe, acredita!
Da amiga…


Sílvia Gonçalves

Ousadácia

Quantas vezes parámos uns momentos a rotina da nossa vida para reflectir se estamos a ser o que queremos e a fazer aquilo que desejamos. Um grande número das vezes a resposta obtida é negativa. Em parte por nossa culpa porque andamos toda a vida a trabalhar para obter objectivos que esquecemos de a viver. Falo em viver livremente. Em parte a culpa é do destino que nos move para caminhos que nunca pensamos percorrer.
Depois perguntam-nos como estamos e o que temos feito e nós explicamos, de sorriso no rosto, procurando disfarçar aquele suspiro de desilusão que nos invade nos piores momentos.
Estereotipadamente vivemos bem. Mas falta-nos aquela ousadácia (ousadia + audácia) para quebrar muros e fronteiras e vivermos o agora.
É urgente seguirmos os instintos. É urgente largar a razão. É urgente conservar doses de loucura. É urgente!
Se estamos sós na vida, provavelmente, até sentimos essa solidão mas é bem mais fácil continuar a viver para o cão ou para o gato do que nos lançarmos à paixão.
Ou a pessoa não tem o emprego que gostaríamos, ou é velha ou nova de mais, ou já esteve na prisão, ou não é da mesma cultura que nós, ou ou ou…Basta de hipóteses! Chega de coisas delineadas!
Se amamos devemos lutar. Temos dentro de nós o mais belo dos sentimentos. Ignorá-lo é ignorar a ventura. Se passar com o tempo não faz mal. Foi uma felicidade momentânea que não perde o valor por isso.
Somos demasiado adeptos de regras. Devíamos arriscar. Se pensarmos em tudo que já deixamos escapar por receio certamente que nos sentimos oprimidos. Já se pensarmos nos nossos fracassos sentir-nos-emos aventureiros.
É urgente devastar assim como é urgente criar. Só deste modo haverá espaço para novas plantações e, consequentemente, para novas colheitas.


Sílvia Gonçalves

Coisas que acontecem


Pensei que os teus braços
Eram o meu refúgio
E que os teus passos
Traduziam o modo certo de andar.
Pensei que tudo que sonhavas
Era possível realizar.
Acreditei que se quisesses
Podias parar o vento,
Podias secar o mar
Com um doce movimento,
Com a força de um olhar.
Perdi-me no teu corpo.
Julguei ser esse o meu lugar.
Lugar infindável,
Feito para amar.
Nem chegaste a saber
Tudo aquilo que sou.
E apesar de sofrer
Não faz mal, já passou.


Sílvia Gonçalves

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Amor numa matrícula


Quando alguém viaja, uma das coisas que prende a sua atenção são as matrículas dos automóveis pertencentes ao seu país. Se vamos para fora, ao avistarmos matrículas portuguesas cresce em nós patriotismo ou este nasce, se até então nunca o tínhamos sentido.
Manifestamos uma enorme fraternidade para com esses condutores que, tal como nós, vagueiam por terras tão distantes das origens.
Se, por outro lado, estamos dentro do nosso país o que cresce ou nasce em nós é a falta de civismo e a inimizade. É estranho, mas é o que acontece.
É necessário ir para terras distantes para expressarmos o amor à pátria, o amor à nação?
Depois todo o mundo se queixa dos nossos governantes, quando o amor a Portugal, primeiramente, deveria ser expresso por nós mesmos. Cidadãos activos na vida social pertencente ao seu país de origem, ao país que nos gerou. O patriotismo devia sair de nós de modo genuíno e nunca activado por uma matrícula qualquer.
Esta situação é o mesmo que amar apenas os nossos filhos quando eles estão fora de casa porque dentro estão demasiado perto e nem os notamos.
Conclui-se que é preciso sentir falta para acolher em vez de acolher porque se sente falta.
É o mundo que temos.



Sílvia Gonçalves

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A minha poesia

Poesias indeléveis
Estas em que mergulho,
Rompendo alianças e anéis,
Rompendo tristeza e orgulho.

Vida alta.
Vida ousada
Que se vai, já não volta.
Vai até divisar a madrugada.

Sou uma rosa,
Nem sempre negra.
Pois se em mim corre poesia e prosa
De rosa, passo a seda.

Conchas, lamparinas e flores
Nada têm em comum.
São como todas as dores,
Concebidas para cada um.

Meu doce, alado e fiel poema
És o que melhor me sabe escutar.
Absorves-me dilema a dilema.
És o meu suave despertar.

Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Doce...não como mel, sim como um beijo


Foi recentemente. Numa cerimónia religiosa.
O sacerdote que fez o sermão (e que belo sermão) disse algo que me fez reflectir. Foi mais ou menos assim: Jesus, palavra tão doce que só é possível pronunciar com um beijo.
Inicialmente, esta frase intrigou-me pelo que julguei que fosse uma espécie de metáfora usada para realçar a doçura, a divindade de Jesus. Só depois, alheia ao que se passava à minha volta, pronunciei a palavra “Jesus” para o meu intimo e notei que os meus lábios adquiriam a forma de um beijo. Como aliás os lábios de toda a gente que proferisse a mesma palavra.
Ali, naquele instante, percebi a frase do sacerdote. Frase inteligente, pensei.
Fui criada envolta na fé cristã e só aos 18 anos me dei conta que só conseguimos proferir a palavra “Jesus” com os lábios prontos a beijar. Como que prontos a beijar essa mesma palavra. Coincidência? Há coisas que dão que pensar. Se não fosse o estar ali, naquela igreja, naquele dia, estou certa de que nunca iria dar-me conta deste mistério desarmado.
Quantas vezes estamos tão perto e tão longe de coisas magníficas. Coisas simples que ganham forma e dimensão por isso.
Naquela hora senti-me rica. Mais rica até do que se tivesse lido 20 obras de um escritor romano qualquer.
Há coisas que nos aumentam a sabedoria. E há coisas que, para além disso, aumentam o nosso ser. Esta, nem sei bem porque razão (talvez pela simplicidade) foi uma delas.


Sílvia Gonçalves

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

É tudo uma questão de mãos

Em todos os segundos passados uso as mãos. Uso as mãos para sentir, uso as mãos para tocar, uso as mãos para acariciar.
Todos os momentos marcantes da nossa vida envolvem mãos. Não que as outras partes do nosso corpo não sejam relevantes. Todas elas têm a dura função de nos proporcionar vida. Mas as mãos…
Todas as emoções que sentimos recaem sob elas e através delas se transmitem. As mesmas mãos que servem para acariciar servem também para ferir.
Costumo olhar para as mãos como quem olha para uma montanha. À primeira vista tão difícil de alcançar como as mãos de quem muito desejamos e depois podemos escalá-la com a simplicidade de um lagarto. Assim como, dotados de humildade e amor, alcançamos as mãos da pessoa mais ausente que temos na nossa vida. Ausente até esse momento.
Para mim, o acto tão banal de dar as mãos continua a ser o mais verdadeiro e sublime de todos. Mais belo que o próprio beijo ou que o abraço.
Ao terminar a guerra apertam-se as mãos. Mãos…símbolo de paz!
Até numa discussão de pessoas que se gostam muito as mãos não param de se acariciar mutuamente. A minha mão na tua e a tua mão na minha. Mesmo sem notarmos, elas enlaçam-se tão meigamente. São mais verdadeiras que nós. E existe imagem mais bela do que essa? Duas partes indispensáveis de corpos diferentes formando uma parte só.
Dedo a dedo as mãos unem-se e dominam a saudade, a tristeza a solidão. Dedo a dedo as mãos dominam o mundo.
As coisas belas da vida passam pelas nossas mãos e é com elas que as saboreamos.

Sílvia Gonçalves

sábado, 8 de agosto de 2009

Amo-te de longe, ou talvez só goste de ti



Estás aqui. Mas não sabes que estás. Por uma única razão: nunca to disse. Nunca fui capaz disso. Receio que não esteja em ti da mesma forma que estás em mim. Receio abusar disso. Mas estás. Por momentos, certamente já o sentiste.
Tantas vezes te imagino. Soubeste ser especial. És meu bem e meu mal.
É custoso viver assim. Não nego. Mas é bom ter-te, seja de que modo for. E o modo que escolhes-te para mim é um modo bom.
Pertencemos a circunstâncias diferentes. Para mim, isso não é desculpa. A desculpa não existe. Assumo não ter coragem. Mas estou bem assim.
Serás sempre uma pessoa importante. Não é possível quantificar o que sinto por ti, o meu enorme orgulho em tudo que és.
Pessoa quase perfeita. É isso que és para mim.
Estás perto, estás ausente. Já me habituei.
As palavras que um dia me disseste valem esse momento e o agora. Valerão sempre.
Tratas-me de modo diferente. Só ainda não descobri se isso é bom ou mau. O simples facto de ser acalenta as minhas noites vazias. Reformulo: noites de imaginação em que soubeste ser especial.
Aguardo o futuro. Por enquanto é só.

Sílvia Gonçalves

quarta-feira, 5 de agosto de 2009


Sou como uma rosa negra,
Só, perdida e destroçada
Que é feita de espinhos e seda
De tristeza e de mágoa.

Não tenho jardim onde morar
Vivo à deriva do tempo
Sem alimento, estou a secar
Por fora e por dentro.

Cada pétala uma desilusão
Cada espinho um castigo
Árido é o meu coração
E sangra, ferido…

Quem me dera poder ser
Cascata numa floresta
Com água sempre a correr
Purificando o mundo que não presta.

Apenas as raízes me agarram
Não tenho vida nem cor
E os raios de sol amargam
Perdi tudo, não tenho amor.

Anseio uma tempestade
Que me arraste para os confins do Universo
Onde não impere o mal nem falsidade
e onde volte a florescer, suavemente, verso a verso.

Sílvia Gonçalves

A minha fé é real


Religião sem fundamento.
Tecto por abrigar.
Pássaro livre e sedento,
Rodopiando pelo ar.

Conventos fechados
Sobre a fé do momento,
Disfarçando pecados
E os males do pensamento.

Hipocrisia sem findar.
Desculpas que cegam
Quem julga acreditar
Nas escrituras que se elevam.

Cruzes fictícias
E chagas de mentira
Que enganam as perícias
E as dores de uma ferida.

Sinos que ao tocar
Propagam mortes e horror,
Que fazem o povo gritar,
Aclamando o Senhor.

O meu Deus não faz magia
O que quero, tenho de lutar
Para o obter, um dia.
Não me chega de um altar.

Sílvia Gonçalves

UM DESAFIO

Só o gato o entendia.
Ali, sentado, contava os dias até voltar para casa. Não gostava daquele lugar. Fora obrigado a mudar-se, com os tios, sem saber bem porquê. “É só por algum tempo Zezinho”-diziam.
Na realidade, é difícil explicar a uma criança de cinco anos, versátil como ele, que o pai estava a morrer, vítima de cancro. Era difícil dizer que ele não podia estar junto do pai durante algum tempo até a doença estabilizar ou……….a vida do seu pai ter um término.
Zezinho não entendia. Sabia que algo não estava dentro da normalidade.
Ali, com o gatito cinzento no colo, olhava pela janela aquela que julgava ser a direcção da sua casa.

ESTA HISTÓRIA NÃO ESTÁ CONCLUIDA! (como deves ter reparado)
LANÇO AQUI UM DESAFIO: algum blog continuar a história, sem a terminar, passando-a a outro blog e assim sucessivamente.
Vamos usar este mundo virtual para cruzar a imaginação de muitos com a originalidade de alguns :)
Quem quiser ser o primeiro a continuar esta história deve deixar um comentário nesta postagem, advertindo da sua intenção a fim de que não continuem com a história mais do que uma pessoa, em simultâneo.
Bjs, fico à espera que gostem de desafios :)
Imaginar é ir mais além, sem sair do lugar!

Se eu me perdesse no deserto? Juro que não sei o que faria. Talvez caminhasse até perder as forças.
Quantas vezes as nossas vidas são desertos: vazias e secas.
Talvez escrevesse: HELP ME na areia, em letras tão grandes quanto o meu desespero, na certeza de que algum ser aéreo (talvez um avião) conseguisse ler o meu pedido. Pedido que duraria apenas os poucos minutos em que o vento não se lembraria de arrastar a areia.
Talvez emitisse sons na esperança de que alguém me ouvisse, quem sabe um animal. Mas por pouco tempo, não podia perder as forças.
Se eu me perdesse no deserto, apesar da esperança da qual o meu corpo é composto, tenho a convicção de que morreria. E tu? Que farias se te perdesses no deserto?

Sílvia Gonçalves

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Tela





Relembro muitos traços
Que a névoa tenta ocultar,
Lançando espelhos baços
E ruídos de assustar.

Existem escadas que conduzem
Onde nunca quero estar
E candeeiros que reluzem
O brilho do teu olhar.

De olhos fechados
Alcanço-te melhor.
Vislumbro os momentos passados.
Momentos de eterna luz, eterna dor.

É uma vida pintada a pincel
Esta que sozinha percorro,
Formando a tela mais fiel
De todas as vidas de entre o povo.

Sílvia Gonçalves

domingo, 2 de agosto de 2009

Partes de mim

A pele uso para sentir.
O corpo é o meu engenho,
Ao qual recorro para transmitir
Todas as sensações que tenho.

Meus olhos são amoras
Que teimo em cultivar,
Por entre ânsias e demoras,
Sem nunca cegar.

Ao meu suor
Os meus poros não se opõem,
Transpirando também o amor
Que os meus ventrículos compõem.

Tenho unhas de ilusão
E mãos de recados.
Construo o meu coração
Com tijolos de pecados.

Fios de ceda
Nascem em mim
Como erva na alameda
Num dia de frenesim.

Sou partes oblíquas
Que forçadas, se conjugam
Como máquinas agrícolas
Que a terra perturbam.

Sílvia Gonçalves

sábado, 1 de agosto de 2009

Almas <<------>> Corpos

As almas
Compõem rituais,
À noite,
Sob a luz da lua.

Dançam baladas.
Habitam corpos especiais.
Encarnam a escuridão.
Elevam-se nuas.

Os corpos
São prisões cercadas,
Redes de emoções,
Páginas caligrafadas.

Tocam melodias
Tentando evoluir.
São partes imaturas,
Pedaços por sucumbir.

Sílvia Gonçalves


Viva o Verão!


Momentos agradáveis,
Enlaçados na água do mar,
Alheios à areia fina.
Momentos quentes,
Momentos molhados.
Sorrisos que cercam
Os acontecimentos normais.
Vozes misturadas
Como bolas de bilhar.
Amizades saudáveis
Pairam pelo ar.
Nuvens em baixo e em cima
Dos beijos calmos e ardentes.
Namorados enrolados
Que já nem pecam,
São actos banais.
Toalhas molhadas
Teimam em reinar.

Sílvia Gonçalves


Tempo para reflectir


Durante estes 18 anos da minha existência que tenho sido alvo de muita inveja, falsidade e traição, de modo a que me era dificil encarar determinadas pessoas, em certas situações. Até que um dia, um amigo me mandou uma sms enorme a explicar como eu deveria proceder nessas alturas. Aconselhou-me a imaginar que eu estava dentro de uma bola com uma trasnparênsia peculiar. Essa bola permitia-me ver para fora mas impedia que os outros ( as pessoas que eu queria evitar) me vissem dentro dela. Devo dizer que resultou!
Hoje, com mais maturidade ainda em cima e uma quanta dose de experiência, já não recorro a essa bola que me engolia mas protegia. Agora simplesmente passo por quem quer que seja e destribuo sorrisos. Os que os captam são dignos de toda a minha seriedade e respeito, os que os ignoram são dignos do meu desprezo. Chorar por essas "pessoas"?Nunca mais!
Porque só merece gostar de mim quem tiver dentro de si virtudes para isso.
Por isso, um conselho que vale para toda a vida: quem não gostar de vocês só vos está a ajudar a crescer e a construir uma muralha indestrutivel de coragem e ousadia. O mundo avança com o bem de uns e fortalece-se com o mal de outros.
Sílvia Gonçalves

Cansada da minha carcaça (gostava de vestir outra pele)

Como eu gostava
De ser sobrenatural.
A humanidade limita-me.
Gostava de não ter barreiras,
De poder voar,
De passar entre o fogo.
Gostava de morrer
E acordar quando quisesse.
A humanidade limita-me.
Gostava que tudo
Fosse acaso.
E acontecesse
O inesperado.
Gostava de atingir o inimaginável,
De chegar ao impossível.
Adorava ser uma criatura
Diferente e livre.
A humanidade limita-me.
Amava tocar todas as sinfonias
Num piano quebrado.
Eu só queria ser um monstro belo,
Um mostro com sentimentos.
Ter asas e velocidade.
Eu queria não pertencer aqui,
Queria ser doutra galáxia.
Mas…
A HUMANIDADE LIMITA-ME.

Sílvia Gonçalves

Morre lentamente…


…quem não sabe amar,
Quem foge dos perigos,
Quem cai na rotina,
Quem teme arriscar,
Quem nunca anda à chuva,
Quem não segue a emoção,
Quem planeia toda a vida,
Quem nunca salta o portão,
Quem não sabe abraçar,
Quem desaprendeu a sorrir,
Quem nunca pisa o risco,
Quem vive a dormir,
Quem se protege de tudo,
Quem não anda descalço,
Quem não se lança ao mar,
Quem não percorre o mundo,
Quem só fala com quem conhece,
Quem não se lança num amor proibido,
Quem nunca abusa do que gosta,
Quem nunca faz alarido.

Morre lentamente
Quem não sabe durar,
Quem teme ser diferente
E se recusa a amar.


Sílvia Gonçalves

Alta tensão


Barulho ensurdecedor,
Faíscas que caem.
Paredes de horror,
Fantasmas que saem.
Vidros partidos,
Véus rasgados.
Sonhos feridos,
Momentos apagados.
Alta tensão,
Que aumenta
O bater do coração.
Arde o sabor a menta.
Prendem-me o corpo
Com cadeados de aço.
Corpo vivo, corpo morto.
Corpo sem braços.
Momentos cristalizados
Com o sémen da vida.
Olhos abertos, olhos fechados.
Estanca-me a ferida.
Rumo desajeitado,
Este que me cerca
Para todo o lado,
Onde a essência peca.

Sílvia Gonçalves

Feiticeiro

Foste, és e serás
Um feiticeiro
Que engana, trai
E prende
O dia inteiro.

Olhos falsos,
Cabelo enganador
Que enlaça o vento,
Rasga a brisa
E reparte dor.

És tentativa forçada
De apagar o passado.
És a chama embaciada,
A janela fechada,
O cálice derramado.

Sílvia Gonçalves


Ideal de beleza? Para quê?

Não existem seres iguais,
Tirando excepções diminutas.
Então, não fazem sentido os ideais
Que nos conduzem a disputas.

Todos somos belos, simplesmente.
Não há como saber quem o é mais.
Isso seria apelidar alguém de diferente,
Fugindo das regras normais.

Olhos verdes, azuis, castanhos
Que diferença faz?
Para quê cuidados tamanhos?
O essencial é usufruir de paz.

Rugas ou pele lisa.
A pele é para sentir
Mesmo a melodia imprecisa
De quem já não sabe ouvir.

A beleza é relativa
Eu posso gostar de quem não gostas.
Achar uma pessoa atractiva
Mesmo apenas vendo-a de costas.

Não fazem sentido algum
As exclusões.
Adão era só um,
Logo não sofreu comparações.

Eva amou-o desde logo.
Mas e se houvessem mais?
Escolheria Adão de entre o povo
Ou render-se-ia às comparações fatais?
Eva e Adão,
Histórias sem certeza.
Mas o que importa é o coração
E não a suposta beleza.

Sílvia Gonçalves

Há momentos em que me apetece escrever aos fragmentos…

Es tou dis tan te,
Alhe ia a tu do
Co mo um vi a jan te,
Em ro ta pe lo mun do.

Sou pe da ços un i dos
Com von ta de i ne ren te,
Que fo ge dos pe ri gos
Nu ma lu ta cres cen te.

Há alturas, nesta caminhada denominada vida, que só escrevendo de acordo com o nosso estado de espírito é que as palavras se espraiam e conseguimos comunicar. Portanto, hoje, sinto-me fragmentada. Não fragmentada como uma estrela-do-mar mas fragmentada como um pedaço de papel que se rasga sem notar. Da estrela, resta-me apenas algum brilho que faço questão de preservar. Há momentos assim…

Sílvia Gonçalves


segunda-feira, 20 de julho de 2009

Tempestade em nós



Há dias em que apenas chove no meu mundo...Chovem saudades, chovem intrigas, chovem conflitos, chovem tristezas...

Tudo o que faço é abrir o guarda-chuva dos sorrisos e mostrá-lo ao mundo. Porque, quando chove em nós mesmos, mesmo ao nosso lado pode estar o sol mais brilhante do mundo.

Não se deixem molhar!

Sílvia Gonçalves

Identidade




Hoje mudei de nome.
Chamo-me apatia
Porque a alma me consome,
Seja noite seja dia.

A vida para mim mudou.
Já não sou quem era.
Agora eu sou
A apatia que cega.

Este letargo,
Que em mim se exalta
Mergulha-me num lago
De maré baixa e maré alta.

Já não sou uniforme.
Agora, vou sendo.
Mudei de nome.
Vou renascendo.

Sílvia Gonçalves

Fusão


Há dias em que me apetece
Fundir com a Natureza.
Ser uma montanha agreste,
Ser o mar azul-turquesa.

Fazer do meu coração
A vida de um planalto.
Ser a lava de um vulcão,
Ser raiz presa no asfalto.

Fazer das minhas veias
As veias da terra.
Ser parte das teias
De uma aranha negra.

Há dias em que me apetece
Mudar de temperamento.
Evocar uma prece
E soltar o cabelo ao vento.

Sílvia Gonçalves

domingo, 19 de julho de 2009


Se eu fosse uma flor?
Soltava as pétalas ao vento
E guardava todo o calor
Para dormir ao relento.

Se eu fosse mar?
Desprendia-me dos rochedos
Para poder respirar,
Libertando todos os medos.

Se eu fosse horizonte?
Guardaria todos os navios
E seria a fonte
De tesouros perdidos.

Se eu fosse bola de sabão?
Preferia ser palhaço
Para te tocar o coração
E te dar mais um abraço.

Se eu fosse imortal?
Cansar-me-ia da vida
Porque viver uma vez é normal
Mas mais que isso já é teimosia.

Sílvia Gonçalves

sábado, 18 de julho de 2009

Para o blog "Pedaços de qualquer coisa"


Em agradecimento ao selo que me ofereceste e por visitares assiduamente este meu cantinho, tenho este diploma para ti :)
Bjinho

O fim do princípio



Todos nós somos
Animais.
Então porque nos impomos?
Por sermos racionais?

Destruímos o mundo
Com a ciência e a tecnologia
Mesmo sabendo, lá no fundo,
Que tudo isto é excesso de ousadia.

Criam-se curas para salvar
E curas para abater.
Quando é que a humanidade vai notar
Que o planeta está a morrer?

Agimos no hoje,
Esquecendo o amanhã.
É um egoísmo que vem de longe
E jamais terminará.

Não vos faz pena
Matar os animais?
Não é isto um problema?
Seres tão únicos e leais.

Para espiar
Criou-se o GPS.
Depois, para relaxar
Inventa-se pastilhas anti-stress.

Que raiva que me causa
Este mundo artificial.
É uma raiva que não pausa
Envolta neste “paraíso” fatal.

Continuem a pensar no comodismo
E a guiar esta triste frota.
Eu até vou usar um eufemismo
Ao dizer que vamos todos bater a bota.

Mas o Homem não pensa assim.
Acha-se um Deus, um dominante.
E quando já só restar o fim
Não haverá ciência que se levante.

E, embora humana, digo
Que aí o Homem havia de sofrer.
Havia de perder o rumo e o sentido,
Pagando pelas vidas que deixou morrer.

Sílvia Gonçalves

sábado, 11 de julho de 2009

Carta desviada

Olá
Meu grande amor!
Escrevo-te para dizer
Múltiplas coisas que sinto.
O meu coração já está a aquecer,
Sabes que não minto
E só agora comecei a escrever.
Mas o que dizer por palavras?
Coisas que nem o coração
Consegue alcançar.
Não da para transmitir por quadras
Nem através das ondas do mar.
São sentimentos profundos,
Que quebram as defesas
Do vazio
E atravessam diversos mundos,
Perpassam fortalezas,
Nadam no rio.
Coisas que me tornam
Tão pequena.
Coisas que transbordam
Da minha alma serena.
Não cabes dentro de mim
E eu dentro de ti não estou
Como poderei viver assim?
Quando pequena já não sou.

Sílvia Gonçalves